O CORNO TATUADOR

Espie seu delegado

Cuma se assucedeu

Um dia cheguei em casa

Logo quano amãieceu

Encontrei o tar sujeito

Bem deitado no meu leito

Cuma se fosse o seu

Tava todo esparramado

Cum a Jurema do seu lado

Parecia que o cabra

Já tava era acustumado

A cumê minha muié

Na hora que ele quisé

Como se fosse casado

Veno aquela arrumação

Eu fiquei muito invocado

E nem foi pelo ciúme

Mas por que eu fui chifrado

Cum minha honra ferida

E a cunfiança traída

Aí eu fiquei zangado

Fiz uma grande zuada

Acordano o casal

O cabra tomou um susto

E quase passava mal

E a Jurema, coitada

Ficou muito aperreada

Sentino um medo mortal

Apesá da situação

Eu mantive a paciênça

Como eu sou muito tranquilo

Num usei de violênça

Eu também era culpado

De ter sido corneado

Disso eu tinha cusnciênça

Sempre fui muito safado

Eu vivia farreano

Andano nos cabaré

Bebeno e raparigano

Só oiava pra Jurema

Como se fosse um pobrema

Sempre me atormentano

Mas não sou inrresponsave

Eu trabaio todo dia

Arrumano os trocado

Pra sustentá a famia

Que é só eu e a Jurema

Meu cavalo Borborema

E a cachorra Sofia

Mas voltano pro assunto

Escute seu delegado

Dispois que passou o susto

E ficou tudo acalmado

Eu chamei o tar fulano

E dixe que eu tinha um prano

Que era bom pros dois lado

Dixe a ele que pur mim

Pode ficar sussegado

Se fizé o que li peço

Do jeitinho cumbinado

Mal nenhum tu vai sofrê

E tranquilo vai vivê

Se cumprir o acertado

Esqueça minha muié

É o mió que você faz

Cum ninguém toque no assunto

Se quisé vivê em paz

Num quero vê minha fama

Seno jogada na lama

Nem ser falado por trás

O cabra me prometeu

Que ia ficá calado

E o que aconteceu

Prá ninguém ia sê contado

E que sem nenhum pobrema

Para ele a Jurema

Era coisa do passado

Condo ele foi embora

A Jurema eu chamei

E cum toda inducação

Com ela eu cunvessei

Veno sua afrição

Me doeu o coração

E intonce eu perdoei

Ela me dixe qui nunca

Pensou em me cornear

Mas eu era muito bruto

Só queria farriá

Esse homi apareceu

E amô li prometeu

Pra com ela se deitá

Com muita sinceridade

Jurema me prometeu

Daquele dia em diante

Seu amor era só meu

Que nada ela cobrava

E também me perdoava

Por tudo qui já sofreu

Prometi para Jurema

Que eu ia mudá de vida

Ia deixá o cabaré

E manerá na bebida

Pra ficá tudo direito

Ela ia tê o respeito

Pois ela era merecida

Nossa vida ficô boa

Tudo foi se ajeitano

A jurema me dizia

Que tava mermo gostano

E tudo que eu pedia

Cum vontade ela fazia

E nós tava se amano

Mas aí, seu delegado

Tudo foi se compricano

Eu passava pelos canto

O povo ficava oiano

Eu fiquei incafifado

Cum todos aquele oiado

Qui o povo tava me dano

Se eu chegava num buteco

O povo tava falano

Quando eu chegava perto

Eles iam se calano

Eu notei que era de mim

Que eles falava assim

Como quem ta fofocano

E um dia seu dotô

Eu tive a confirmação

Que era mermo contra mim

Toda aquela falação

Quano matei a charada

Foi ingual uma puialada

Que levei no coração

Foi aquele sem vergõia

Aquele cabra safado

Não honrô sua palavra

Discumpriu o cumbinado

E para mim não teve jeito

O trato tava desfeito

E ele tava condenado

Amolei minha peixeira

Uma doze polegada

E montei no Borborema

Numa raiva tão danada

Era achá o sujeito

E eu ia dá um jeito

De minha honra sê lavada

Encontrei o tar sujeito

Bem em frente ao mercado

Ele até tentô fugi

Mas foi logo dominado

Minha doze eu puxei

Pru seu bucho apontei

E amarrei o disgraçado

Levei ele num amigo

Fazedô de tatuage

E bem na testa do cabra

Mandei botá a mensage:

“Sempre fui um mintiroso

Um sujeito iscabroso

Que sempre fala bobage”

E agora seu delegado

Eu estô ao se dispô

Isso só aconteceu

Pruquê ele percurô

O siô pode me prendê

Mas ele vai aprendê

A cumpri o que cumbinô.

Augusto Secundino
Enviado por Augusto Secundino em 24/09/2013
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