CADERNETA DE FIADO.

A caderneta de fiado, principalmente nos interiores era como uma carta de confiança e pelo verejo dos pedidos, com certeza a confiança era em atacado.

Caderneta de fiado

Que tanta conta fez

Pronta pra ser anotada

A mando do fregues

Sem precisar ter fiança

O fregues de confiança

Pagava a conta todo mes.

Guando aberta e anotada

Ali todos os somados

Era um livro de segredos

Dos embrulhos e pesados

Registradora fiel

Dos comprados a granel

Dos secos e dos molhados.

Meio quilo de farinha

Ou ate mesmo um pescado

Iam a lápis e papel

O preço bem anotado

Sem cifrões e sem demora

Se tivava os nove fora

na caderneta de fiado.

Era como uma cartilhazinha

Que só o bodegueiro lia

Onde estava a lição

Que ele mesmo escrevia

Uns dois quilos de feijão

Quatro barras de sabão

fazia a lição do dia.

E se por um descuido qualquer

A conta vinhece a aumentar

Não era preciso um teclado

Com tecla pra deletar

Se corregia sem medo

Com um esfregão do dedo

Ou uma borracha pra apagar.

No começo da semana

Logo na segunda feira

Dois pacotes de bolacha

Com manteiga de primeira

Um gerimum bem pesado

Assim corria o fiado

Durante a semana inteira

Merciarias e bodegas

Ou quitandas do mercado

Com freguesia fiel

E sortimento arretado

Tinham como brasão

Na gaveta do balcão

A caderneta de fiado.

A caderneta e o fiado

Fizeram uma aliança

Enquanto houver bodega

Pratileira e balança

Serão agulha e linha

Bordando as contas todinha

No pano pano da confiança.

E não vão se entragar

A essa tal modernidade

Que copia cola e digita

Sem ter papel de verdade

Caderneta é resistente

Para os fiados da gente

Que tem credito de saudade.

"Fiado só amanhã"

Não é pensamento acertado

Onde tem uma caderneta

Pode ver tá anotado

No fim da conta vão dois

O fregues paga depois

E depois tem mais fiado.

Ebenézer Lopes
Enviado por Ebenézer Lopes em 27/11/2013
Código do texto: T4589166
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