BRAVO DOUTOR MANICACA

Autor: Marciano Medeiros

Doutor Manicaca é

Advogado famoso,

Natural do Ceará

Demonstra porte orgulhoso.

Ele engana quem quiser,

Mas quando vê a mulher,

O cabra fica medroso.

Vai seguindo dominado

Nunca tem opinião,

Pois se falar o que pensa

Gerusa diz um carão,

Gritando: – É melhor calar

Para depois não levar,

Surrote de cinturão.

O nome dele é José

Na moleza se destaca.

Recebeu este apelido

Sendo doutor Manicaca

Por ser muito dominado,

Seu título de advogado

É coisa bastante opaca.

Gerusa faz sua agenda

De maneira prepotente,

Desmancha qualquer negócio

Com linguajar insolente;

E Manicaca assombrado

Fica tremendo calado,

Sendo subserviente.

1

Manicaca resolveu

Montar um novo escritório.

No lugarejo São Pedro

O caso ficou notório,

Pensando: – Eu estou eleito

Numa semana prefeito,

Sem precisar palavrório.

Vou ajudar a pobreza

Nos casos judiciais,

Brigando com ousadia

Nas salas dos tribunais,

E o cidadão comovido

Dará voto merecido,

Eu vou sair nos jornais.

Quando foi no outro dia

Chegaram muitas pessoas,

Todos trazendo questões

Falavam ser muito boas;

E Manicaca sorrindo

Cada tema foi ouvindo,

Dizendo frases à toas.

Muitos processos antigos

Com dez e com vinte anos,

Encalhados na justiça

Por burocratas tiranos,

Foram todos relembrados

Quando os pobres deserdados

Formularam novos planos.

2

Uma mulher o pediu

Mostrando desembaraço:

– Doutor faz dez anos que

Silvana não tem “cabaço”,

Conceda a esta netinha

União igual a minha,

Pegue o marido no laço.

Muitos casos de pensões

Foram bem analisados,

Manicaca prometeu

Conseguir os resultados;

E sobre o tal casamento

Respondeu de modo lento:

– Chame logo os convidados.

Ele atendeu cachaceiros,

Trazendo questões banais.

Mas a mulher controlava

Tudo de modo sagaz,

Imitando uma operária

Desejou ser secretária

Com temperamento audaz.

Todo tipo de problema

Doutor Manicaca ouviu,

Interesse igual o dele

Ninguém de São Pedro viu.

O seu gesto inesperado

Foi bastante comentado,

Extensa agenda cumpriu.

3

Zé Antônio quando soube

Que seria intimado

Para casar com Silvana

Voltou pra casa assombrado,

Mandando comunicar

A decisão de casar

Por ser honesto e honrado.

O prefeito da cidade

Sebastião Nascimento

Ficou bastante raivoso

Ao tomar conhecimento,

Deste novo advogado

No município infiltrado,

Sem ter seu consentimento.

Durante a mesma semana

Houve acidente na estrada

Onde um rapaz faleceu

De maneira inesperada,

Mas a polícia chegou

Lençol no corpo botou,

Às quatro da madrugada.

Antes do médico chegar

Doutor Manicaca viu,

Queria mexer no corpo

O delegado impediu,

Dizendo: – Desapareça!

E um tiro na cabeça,

O doutor quase sentiu.

4

Quando longe do sargento

Falou muito aborrecido:

– Vou botar na capital

Este cabra transferido.

Declaro sem fantasias

Em menos de nove dias,

O caso está resolvido.

Mas ninguém deu atenção

A queixa na capital,

O sargento competente

Fez seu trabalho legal;

E Manicaca chegando

Em casa já foi levando,

Palavreado brutal.

A mulher de Manicaca

Estava muito zangada,

Dizendo: – Será possível,

Você perdeu a parada?

Sem atitude indecisa

Na próxima vez numa pisa,

Uso toalha molhada!

Tenho marido famoso

Conhecido no estado,

Ontem vendi nossos votos

Para um novo deputado.

Já recebi o dinheiro

Pra gastar no estrangeiro,

Logo após o resultado.

5

No pleito em dois mil e seis

Quando houve apuração

O candidato apoiado

Passou por decepção.

De votos teve dezoito

E o Manicaca afoito,

Sentiu grande humilhação.

Ao decorrerem três dias

Fez vingança enfurecida,

Cada questão dos amigos

Já virou causa perdida,

Valente igual um leão

Tratou a população

De maneira imerecida.

Naquela mesma semana

Homicídio aconteceu,

Zé Antônio revoltado

Um tiro em Silvana deu.

A moça sem fazer nada

Teve existência ceifada,

Tristemente pereceu.

Com José Antônio preso

No trágico acontecimento

Foi marcado em poucos meses

A data do julgamento.

Quando a família pagou

Manicaca preparou,

Em casa seu argumento.

6

O Fórum ficou lotado

Escutando o promotor

E Manicaca também

Com pose de orador,

Difamou a jovem morta

Usando uma tese torta

De bom mistificador.

Zé Antônio com ciúme

Praticou a triste ação,

Após manter com Silvana

Calorosa discussão.

O advogado podia

Alegar que neste dia,

Zé teve forte emoção.

Mas resolveu denegrir

De maneira muito astuta

Proclamando no discurso

Que a moça era prostituta.

Enquanto o marido em pranto

No plenário virou santo,

Sem agir de forma bruta.

Usou tática muito antiga:

Condenar quem já morreu

E santificou José

Que o crime cometeu.

O réu pegou nove anos,

Pois dos seus gestos tiranos

Todo o jurado esqueceu.

7

Silvana sendo safada

Não tinha qualquer critério.

Na visão de Manicaca

Merecia o cemitério.

E o promotor não lembrou

Que o Código Civil tirou,

O crime de adultério.

Este é o Manicaca:

Covarde, vil, traiçoeiro.

Que acusa um pobrezinho,

Somente pra ter dinheiro.

Grita o cidadão que quer,

Porém temendo a mulher

Vai se esconder no banheiro.

Na cidade de São Pedro

Sua fama é conhecida,

O diploma de doutor

Tornou-se coisa perdida,

Pois Gerusa quem comanda

Neste Manicaca manda,

Sendo sempre obedecida.

No ano dois mil e doze

Quis fazer rebelião,

Dizendo: – Quem manda aqui,

É este bom cidadão.

A mulher chegou na hora,

Ele disse: – Sim senhora,

Me bata de cinturão!

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