O LADRÃO PÉ DE CHINELO E O LADRÃO DE GRAVATA.

Eu quero aqui descrever,

As gritantes diferenças,

Do ladrão pé de chinelo,

Pelas suas imprudências,

E o tal ladrão de gravata,

Que escapa da chibata,

Mesmo nas incoerências.

E vou falar do contraste,

Desses dois tipos de gente,

Um é burro de carroça,

O outro mega inteligente,

Um é chave de policia,

O outro tem a malicia,

De viver tranquilamente.

Por isso quero contar,

Dos dois tipos de ladrão,

Que vemos em nossos dias,

E a sociedade de então,

Um furta pequenas valias,

O outro grandes quantias,

Das pessoas e da nação.

Os ilustres personagens,

A que estou me referindo,

Vivem apenas do alheio,

Estranhamente sorrindo,

Um só anda engravatado,

E o outro de pé rachado,

A correr sem ter destino.

O ladrão pé de chinelo,

Tá sempre de bolso vazio,

Enfurna-se nas favelas,

Seja no inverno ou estio,

Se roubar algum trocado,

Faz um bafafá danado,

Tem sua vida por um fio.

Já os ladrões de gravata,

Usam toda malandragem,

No meio das classes altas,

Não se apega a bobagem,

Rouba até sem por a mão,

Pra se tornar um tubarão,

Vivendo na grã-finagem.

O ladrão pé de chinelo,

Parece até ser azarado,

Pega qualquer porcarias,

Rouba até tênis rasgado,

Tem a cara de pamonha,

O bicho é sem vergonha,

E nunca se diz culpado.

Os ladrões engravatados,

Tem o patamar dos ricos,

Pouca coisa não lhe serve,

Para eles não tem fuxico,

Esses tais não levam peia,

Pra por esses na cadeia,

Precisa ser bom de bico.

O ladrão pé de chinelo,

Vive só pedindo esmola,

Não importa com quantia,

Qualquer coisa o consola,

Quando é pego na função,

Cai no pau sem apelação,

Onde seu couro se esfola.

O ladrão engravatado,

É doutor nos corredores,

Tem guarda de segurança,

Domina nos bastidores,

Pois lá nos paraísos fiscais,

Pertencem aos maiorais,

Tendo títulos de doutores.

O ladrão pé de chinelo,

Nunca sai da quebradeira,

Rouba hoje gasta amanhã,

Esse sempre faz besteira,

Com seu discurso barato,

Costuma cuspir no prato,

Sempre é pego de bobeira.

Já o ladrão de gravatas,

É todo cheio de orgulho,

Com um papo refinado,

Leva todos no embrulho,

Para aumentar o pavor,

Tem a lei ao seu favor,

E não mexe com bagulho.

O ladrão pé de chinelo,

Vive sempre escarreirado,

Uma verdadeira imundícia,

Pois anda sempre brefado,

Entra em qualquer moradia,

Rouba até roupa e vasilha,

É de fato um pé rapado.

O ladrão engravatado,

Granfino e todo estiloso,

Parece um cidadão da alta,

Muito esperto e corajoso,

Só usa as roupas de marca,

Seus paletós e gravatas,

Tem fabricantes famosos.

O ladrão pé de chinelo,

Incrível mas é verdade,

Rouba do porco a galinha,

Até da própria irmandade,

Vive na borracha a sofrer,

Pelos seus trajes se ver,

Que ele não tem qualidade.

Não Hage de improviso,

O ladrão engravatado,

Analisam sempre o golpe,

E tudo é bem planejado,

Tá sempre de conta cheia,

Rouba e põe na cadeia,

O cara que foi roubado.

O ladrão pé de chinelo,

Tá sempre morto de fome,

Só conseguem porcarias,

E que o craque consome,

Pois nunca sai da miséria,

A sua casa é uma tapera,

Na rua que não tem nome.

Já o ladrão engravatado,

Mora em grande mansão,

Em bairro mais cobiçado,

Preparados pra tubarão,

Não mexe em coisa pouca,

Rouba da largura da boca,

Sem nenhuma comoção.

O ladrão pé de chinelo,

Não cansa em dá mancada,

Rouba as roupas do varal,

Embarca em barca furada,

Está sempre se dando mal,

Com o couro fofo no pau,

Se lasca e nunca tem nada.

O ladrão engravatado,

Só come em churrascaria,

Unido com ricos amigos,

Longe das tais periferias,

Cercado pelas seguranças,

Em suas eternas festanças,

Gastando grandes quantias.

O ladrão pé de chinelo,

Anda sempre de pé dois,

Seu banquete é ovo frito,

Ou então feijão e arroz,

Sua água é de torneira,

Seu lanche pastel de feira,

Comprado um dia depois.

O ladrão engravatado,

Só Bebe água mineral,

Sua bebida é importada,

Até mesmo em funeral,

Só anda em carro de luxo,

Bem tratado e gorducho,

Com tudo em cima afinal.

O ladrão pé de chinelo,

Anda revirando o lixo,

Andar a pé e descalço,

Parece ser seu capricho,

E quando cai do cavalo,

Se assanha igual um galo,

Fica bravo feito bicho.

O ladrão engravatado,

Age sempre à surdina,

Nunca dá ponto sem nó,

Sua mão é sempre fina,

Quando é interrogado,

Diz logo não sou culpado,

É a classe mais cretina.

O ladrão pé de chinelo,

Sempre é tido por culpado,

Por não ter como esconder,

Todo o bagulho furtado,

Por ser semianalfabeto,

Sofre pior que um inseto,

Quando ele for apanhado.

O ladrão engravatado,

Tem nível superior,

Seu método de roubar,

É sem dúvida inovador,

Pois ao ser capturado,

Tem seu rosto ocultado,

Tratado por seu doutor.

O ladrão pé de chinelo,

Chamam-no de marginal,

Se der bobeira é lixado,

Morre moído no pau,

Mesmo estando sumido,

Chamam ele de bandido,

Como atentado à moral.

Pro ladrão engravatado,

O roubo tem outro nome,

Além de roubar milhões,

Não vive passando fome,

É por muitos lisonjeado,

Embora estando errado,

Faz a pose de bom homem.

O ladrão pé de chinelo,

Rouba até pilha e celular,

E as roupas dos varais,

Não se acanha em levar,

O sujeito é descarado,

Nem se faz de arrogado,

Nesse assunto de furtar.

O ladrão engravatado,

Faz pose de industrial,

É faceiro e bom de papo,

Não come arroz sem sal,

Vive só nas mordomias,

Ainda consegue anistia,

Ao invés de cair no pau.

O ladrão pé de chinelo,

É mesmo bem azarado,

Vive sempre no vermelho,

É tem os bolsos furados,

Caneludo feito uma garça,

De correr pelas quiçaças,

Fugindo dos delegados.

O ladrão engravatado,

Vive bem acompanhado,

Não se esconde da polícia,

Por isso tal nem é caçado,

Pois quando a coisa feder,

Tem lugar pra se esconder,

E os melhores advogados.

O ladrão pé de chinelo,

Sempre entra pelo cano,

Pois não tem sabedoria,

Pra viver se disfarçando,

Oh! Sujeitinho Zé ruela,

Rouba até touco de vela,

No lugar que for achando.

O ladrão engravatado,

Não deixa de está alerta,

Ligado em toda a noticia,

Que sua mente desperta,

É sorridente e faceiro,

O bolso cheio de dinheiro,

E as contas encobertas.

Viram todos a diferença,

Dessas duas criaturas,

Um vive na maré mansa,

O outro grande tortura,

Sejam bons, sejam ruins,

Tem os dois o mesmo fim,

Em cadeias ou sepultura.

Cosme B Araujo.

16/02/2014.

CBPOESIAS
Enviado por CBPOESIAS em 16/02/2014
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