Cordel Desmantelado
 
Sou a alegria no pranto de quem chora
E o quebranto no medo de quem vê
A esperança do aflito que vigora
Na infinita espera do que vai ser
Eu sou a gula do faminto jejuando
E a melodia na canção que vai nascer
Sou o alívio de quem morre perdoando
Sou a saudade de quem não pode esquecer.
 
Eu sou o verso do reverso inda clamando
Palavra dura que não ousam responder
Eu sou a brisa fria do inverno terminando
Sou a aurora antes de o dia amanhecer
Eu sou o mote na cabeça do poeta
Sou eu a sombra no escuro a perecer
Para o desconhecido sou um grito de alerta
Bem parecido com aquele que se vê.
 
Eu sou o nada de tudo que se espera
A casa descoberta que a chuva vai molhar
O cravo esquecido em noite de primavera
O sol de verão no corpo nu a bronzear.
Eu sou perfume da flor não percebida
Eu sou o soluço de quem finge chorar
Eu sou o último aceno da despedida
E a lembrança de quem não quer se lembrar.
 
Eu sou o desmantelo mais desengonçado
Que a pena inspirada um dia revelou
O desasossego dos aflitos injustiçados
E do sapato eu sou salto que quebrou.
Quando tu não eras eu já era um suplício
A calma perdida do paciente que na dor
Pagou a despesa hospitalar com sacrifício
E sem comício se tornou vereador.

Belo Horizonte - MG 07/08/14 - 21:00
Ademar Siqueira
Enviado por Ademar Siqueira em 07/08/2014
Reeditado em 22/11/2016
Código do texto: T4913809
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.