Frei Dimão concita Guída a seguir o evangelho

Ovelha, andas desgarrada

do rebanho do Criador

será que estás desmamada

ou mamas em outro senhor?

Tenho de longe acompanhado

o teu andejar pelo Recanto

com o leite derramado

ainda terminas em pranto

Precisas catequizar-te

e rezar meu evangelho

que se acha por toda parte

renovando, não fica velho

Sei que andas decotada

isso fere os olhos do Senhor

e a saia se arregaçada

aí perde todo pudor

Vem rezar meu breviário

que de um lustre precisa

tão grosso como um dicionário

mas tão doce como a brisa

Preciso em minha cozinha

de uma boa auxiliar

quero provar-lhe a broinha

alimento salutar

Já andei de seca-e-meca

a busca de uma boa freira

e até mesmo o Frei Caneca

quis posar de faxineira

Tenho um cajado mui rijo

que carece boa lustrada

mas sigilo é o que exijo

com a parte mais engrossada

Da fé podes de converter

em divino sustentáculo

se derretendo de prazer

ao receber meu sacro báculo

Levar-te-ei para a clausura

onde iremos pios obrar

provarás da levedura

antes do pão assar

A ex-roliça rebelde, Guida,antes tão perseGuida, alinha-se entre as aspirantes do novissimo catecismo de Frei Dimão:

Do rebanho eu fazia parte#

eu era bem obediente#

comecei a fazer arte#

hoje sou mais contente##

Eu já tinha percebido#

tu me acha em todo canto#

com teu olhar comprido#

de um jeito nada santo##

Vou fazer teu catecismo#

e rezar teu evangelho#

quero aprender o cacetismo#

e seguir o teu conselho##

Eu estava decotada#

mas pudor não me faltou#

e a saia arregaçada#

foi o vento que arregaçou##

Eu ando com meu rosário#

e faço minha oração#

mas quero seu breviário#

ele vai me dar unção##

Vamos pra cozinha#

quero muito te ajudar#

ao provar minha broinha#

você vai se lambuzar##

Não precisa andar mais#

já achou sua cordeira#

o frei andou demais#

sou melhor que uma freira##

Esse teu cajado rijo#

faço questão de lustrar#

mas depois eu exijo#

tu guardes onde eu mandar##

Eu sou muito pecadora#

tu me levas pro oráculo#

com essa fé curadora#

eu não vejo obstáculo##

Me coloques na clausura#

e jogues a chave fora#

dê-me água e rapadura#

e depois me(de)flora...##

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 20/12/2014
Reeditado em 20/12/2014
Código do texto: T5075685
Classificação de conteúdo: seguro