UMA QUEIMADAS DO FUTURO - UM SONHO INUSITADO

QUEIMADAS, JUNHO/2014

Certa noite eu tive um sonho

Uma visão pra lá de inusitada,

De um realismo tão profundo

E com cenas tão detalhadas

Que pouco lembrou fantasia,

O que me fez buscar na poesia

Uma narrativa aproximada.

Pode até parecer bobagem

As estórias que irei descrever,

Porém, como fogem do real,

Tudo é possível acontecer.

Não estou inventando, eu juro,

Imaginei Queimadas no futuro,

Onde o mundo todo pude ver.

Cenas do cotidiano e também

De um passado ainda recente,

Nesse sonho pude vislumbrar

Realizando uma viagem na mente.

Apenas no papel de espectador

Como que diante de um televisor,

Sem interferir de corpo presente.

Para tanto precisei utilizar

Toda a minha imaginação,

Tentando, enfim, compreender

Várias décadas de evolução.

100 anos tinham se passado,

A cidade havia atravessado

Por uma ampla modificação.

Numa retrospectiva do tempo

Fiz uma busca do que passou,

E contemplando a realidade

Que o sonho me apresentou,

Vi um lugar muito diferente,

Nada se via do nosso presente;

Toda área física se transformou.

As ruas principais do centro,

João Barbosa e Eunice Ribeiro,

Sofreram inúmeras alterações,

Bairros se modificaram por inteiro.

A cidade evoluiu num grande salto,

Queimadas tinha prédios tão altos

Que mais parecia o Rio de Janeiro.

As mudanças mais impactantes

Estavam no cenário urbanístico,

O núcleo da cidade tão radiante

Ganhara um aspecto futurístico.

Edifícios modernos, luzes de neon

À noite lembravam ruas do Leblon,

Atraindo certo potencial turístico.

Era o sonho da “Nova Iorque”

Por alguma gestão anunciado,

Após vários mandatos eletivos

Fora então, finalmente alcançado.

Prefeitos sérios, com determinação,

Deram ao povo sua contribuição,

Em prol de um lugar avançado.

E não somente a gestão pública,

Como também a iniciativa privada,

Donde surgiram vários investidores

Resolvendo apostar em Queimadas.

Ao longo do tempo toda a cidade

Rendeu-se de vez à prosperidade,

Crescendo de forma acelerada.

Um mérito esse do comércio local

Que impulsionou tal crescimento,

Diversas empresas se instalaram

Gerando enorme desenvolvimento.

Queimadas demonstrando potencial

Tornou-se importante polo industrial,

Fazendo história em pouco tempo.

A localidade se dividia agora

Em várias zonas de expansão,

E como toda grande metrópole,

Crescera também em população.

O município inteiro se expandiu,

Seu povo já somava 500 mil,

Havendo déficit na habitação.

Os problemas de cidade grande

Vieram todos no mesmo pacote,

Assaltos, sequestros, homicídios,

Crimes e infortúnios de toda sorte.

Havia trabalho para todo mundo,

Assim como o ladrão, vagabundo

Que só temia a pena de morte.

No ano de 2062, precisamente

Com 100 anos de existência,

Queimadas já se destacava

Como cidade de referência.

Proporcionalmente, digo mais,

Deixara Campina Grande pra trás,

Provando assim sua competência.

Mas o meu sonho fora além,

Estávamos no século XXII,

Muitos projetos do passado

Que haviam ficado pra depois

Agora se tornavam realidade;

A cura pra várias enfermidades

Enorme avanço pra ciência foi.

O conhecimento e a tecnologia

Fizeram do mundo obra de arte,

A automatização era evidente,

Havendo robôs por toda parte.

Relativo à economia e crescimento

O planeta melhorou em 100%,

Tendo a poluição como contraste.

A natureza - ou o que restou dela -

Conscientemente fora preservada,

Para que as gerações seguintes

Não fossem de vez ameaçadas.

Na medida em que a terra evoluía

A qualidade de vida desaparecia,

E todas as classes eram afetadas.

A violência ferozmente acentuada

Tornava o mundo mais decadente,

As drogas eram praga anunciada,

Mais letais, mortalmente eficientes.

Nações em guerras se destruíam,

Corações desiludidos endureciam,

Buscando na fé soluções ausentes.

As religiões se multiplicavam

Como ópio, tranquilizavam o povo,

Mas nem por isso a humanidade

Recusava-se em buscar algo novo.

Uma era moderna pedia passagem

Com suas invenções e engrenagens,

Dominando a terra, água, ar e fogo.

Com o mundo todo informatizado

Generalizou-se o uso do computador,

Globalização virou coisa do passado,

A “universalização”podia se propor.

A tecnologia estava em toda parte,

O homem inclusive, já habitava Marte

Aventurando-se como conquistador.

Muita parafernália científica

Que vemos em filme de ficção,

A essa altura a humanidade

Já proporcionara sua invenção.

Exceto algo que ainda lhe seduz:

Conquistar a velocidade da luz,

Adiando para a próxima geração.

Quanto ao Brasil, por sua hora e vez,

Desempenhando aumento profundo,

Apesar de tanta corrupção, tanto roubo

Entrou finalmente no primeiro mundo.

A região Nordeste avançou sem risco

Com a transposição do rio São Francisco

O Sertão virou mar e o solo fecundo.

Nosso pequeno Estado da Paraíba

Passou como nunca a produzir,

Com sementes e cultivo adequado

O progresso se estabeleceu por aqui.

Agrônomos semeavam fertilidade,

Modernização do campo à cidade,

Crescimento do Sertão ao Cariri.

Durante este sonho também pude ver

As consequências de um mundo louco,

Relembrando as tradições e costumes,

Os quais se perderam pouco a pouco.

Filhos que já não obedeciam aos pais,

Longe de princípios e valores morais,

Tratando professores na base do sôco.

Nesse contexto a vivência foi afetada,

As virtudes se desviaram no caminho,

A juventude, uma geração fracassada,

Não demonstrava mais amor e carinho.

Aquela boa educação, de base familiar,

No futuro não haverá de se encontrar;

Filho desde cedo vai se virar sozinho.

E no decurso dessa era caótica

Tudo de melhor que já existiu,

A exemplo da cultura, das artes...

Infelizmente, o mau gosto engoliu.

A boa música, apenas pra lembrar,

Virou artigo raro de se encontrar,

Havendo só imundície no Brasil.

A nostalgia se revelava a saída

Para aqueles mais inconformados,

Um refúgio para os saudosistas

Que optavam buscar no passado

As produções que se perderam,

E muitos ignorantes esqueceram

Ao difundirem lixo midiatizado.

Voltemos, pois, a focar Queimadas,

Delimitando este sonho eloquente,

Minhas observações quanto ao futuro,

Em comparação com o nosso presente,

Revelam que o lugar avançou bastante

Já não era tão pequeno quanto antes,

Evoluindo de forma surpreendente.

Lembrando que a história mostra

Que Queimadas é bem mais antiga,

Fora fundada ainda no século XVIII

Com características de pequena vila.

Ligada à Campina Grande, está escrito,

Há muito permanecera sendo distrito;

Antes de emancipada, gerou até briga.

A partir de 1940 tentaram registrar

Essa vila próspera como Tataguassu,

Na época ninguém quis ouvir falar,

Causando assim, tremendo “sururu”.

O nome indígena seria para lembrar

As origens e o surgimento do lugar,

Um céu que sempre se mostrou azul.

Já a Queimadas que vi no futuro

Em nada lembrava o seu passado,

As ruas, avenidas e até viadutos,

Túneis por toda parte espalhados.

Um trânsito confuso se instalara,

A vida tranquila era coisa rara;

Havia iniquidade por todo lado.

No entanto, a cidade crescia

Dentro de certo planejamento,

Uma política de infraestrutura

Dava o respaldo e embasamento.

E assim, prefeitura e empresariado

Uniam forças no mesmo traçado,

Em benefício do desenvolvimento.

Os fins justificavam os meios

E Queimadas investira pesado,

Um moderno terminal rodoviário

Enviava ônibus para todo Estado.

Obras que surgiam a todo vapor,

Inclusive, a construção de um metrô

Tornando o município interligado.

Sem esquecer-se da penitenciária

E do seu aeroporto internacional,

Investimentos na área de saúde,

Em prevenção e segurança total...

Havia compromisso só em crescer,

Ainda que não conseguisse resolver

Problemas relacionados ao social.

Era a infância sendo corrompida,

Estupros ocorrendo à luz do dia,

Menores abandonados e mendigos,

Prostituição era o que mais se via.

Delinquentes juvenis, gente do mal

Buscava na droga apoio emocional;

O “Underground” se estabelecia.

A população já não podia comportar

Essas “subclasses”e a criminalidade,

Buscavam-se, pois, atitudes enérgicas

“Erradicando-os”de vez da sociedade.

Mesmo eficiente, a lei em Queimadas

Psicologicamente era despreparada,

Resolvendo o problema pela metade.

Alheias a quaisquer dificuldades

Todas as autoridades se fechavam,

Para dirigentes, religiosos e juízes

Tais infelizes pouco importavam.

Se a vítima fosse um reles viciado,

Transferiam o problema pro Estado,

Na medida em que se afastavam.

No futuro um dos pontos positivos

Estava no bem-estar proporcionado,

A modernidade a serviço de todos,

Um direito amplamente assegurado.

A busca por um mundo confortável

Tornava o planeta menos sustentável,

Tendo seus recursos quase esgotados.

Esse era o preço do progresso

E todo povo se dispunha a pagar,

Porém, haviam leis em Queimadas

Onde tudo se obrigava a reciclar.

A vida urbana relativamente boa,

Só perdia pra capital, João Pessoa,

Sem pretender aqui comparar.

Foi fazendo essa viagem no tempo

Que eu pude contemplar exaltado,

Uma cidade crescendo verticalmente,

Um ambiente altamente sofisticado.

No pátio desocupado da antiga Socal

Ergueu-se uma praça monumental,

Um antigo sonho, enfim, realizado.

Existia em pleno funcionamento

Um teatro e um espaço cultural,

Um moderno centro administrativo

Bem próximo à Câmara Municipal.

Também se destacavam pela cidade

Escolas técnicas e universidades,

Além de um estruturado hospital.

Uma frota de automóveis luxuosos

Trafegava pelas ruas de Queimadas,

Hotéis cinco estrelas e até shoppings

Para deleite das classes privilegiadas.

A moeda corrente entre rico e pobre

Não era mais papel, níquel ou cobre;

Havia uma debitação automatizada.

Museus e cinemas foram construídos,

Bem como uma moderníssima arena,

A “Queimadense” na elite do futebol

Vencia grandes clubes sem problema.

Do baixo Castanho até a Vila de cima

Cruzando pelo “Cássio Cunha Lima”,

Sonhei com uma cidade nada pequena.

Mas foi o turismo no município,

Ao contrário do que se pensa,

Que contribuiu com a economia,

Fazendo uma notável diferença.

Com seus atributos e atrativos

Queimadas virou meio alternativo,

Vindo turistas à sua presença.

Uma região rica por natureza

Não podia simplesmente ignorar

Sua grande herança pré-histórica

Que por milênios pôde preservar.

Sítios arqueológicos foram criados

E com frequência eram visitados

Por estrangeiros de todo lugar.

O lajedo que leva à Pedra do Touro,

Incluindo toda área compreendida,

Tornou-se uma estância ecológica

Atraindo pessoas não só da Paraíba.

Vinha gente do Nordeste aos montes

Descer de rapel, banhar-se nas fontes,

Fazendo do turismo renda garantida.

Já no finalzinho desse sonho,

Antes de voltar pra realidade,

Procurei inutilmente descobrir,

Tentando saciar a curiosidade,

Algo sobre a minha existência,

Filhos, netos, toda descendência,

Gerando a minha continuidade.

Porém, houve uma proibição

No tocante ao meu destino,

Nada eu podia ver ou saber;

O futuro de cada um é divino.

Ia depender do que se realizaria,

Das escolhas que eu ainda faria,

Como já o faço desde menino.

E após essa infindável noite,

Entre sonhos e imaginações,

Vim acordar no dia seguinte

Fazendo inúmeras anotações.

E ao transcrever para o papel

Resolvi compor este cordel,

Sempre fiel nas afirmações.

Por Paulo Seixas