CORDELITO DA SAUDADE
DO LIVRO TOCATAS.
O que seria a saudade?
Um sentimento gigante?
Uma emoção acelerante,
Mas terna e aconchegante?
Uma dor não tão doida,
Uma insistente ferida,
Que nunca insinua partida?
Seria perfume e dor,
Dor e perfume envolventes,
Estonteantes e persistentes?
Seria tristeza temida,
Que teima em ser a preferida
E perturba nossa vida?
Ou nostalgia incontida,
Uma alegria dolorida,
Ou uma sorte perdida?
Seria um odor, amigos,
Que não se vê nem se toca,
Mas sua insistência nos choca.
E como uma pororoca
Nos envolve e nos provoca,
Impondo certos castigos?
Ou uma força-choque
Que nos fecha em pacote
Com terna dor e fricote
Que nos faz um réu da sorte
Num quase estertor de morte?
Sabemos ser dor sempre presente
Que não se vê; só se pressente.
Que como agulha contundente
Penetra fundo na gente,
Aguda e bem fortemente.
Ou seria flor que só se sente,
Com um perfume diferente,
Que estonteia corpo e mente,
Como se o mundo existente
Fosse força permanente,
Que sempre trancasse a gente
Nos amarrando pra sempre?
Saudade, dor dolorida,
Que nos deixa sem saída,
Nos atacando de frente,
Persistente e resistente.
Saudade é sempre um rói-rói,
Um sempre eterno dói-dói,
Que cada dia nos corrói,
Quase nos sufocando,
Quase a matar, não matando.
Mas é a dor preferida
Dos renegados da vida.
Consolo de despedida.
Cura pra muita ferida.
E nos soluços da vida
É o resto bom que nos fica.
Saudade é dor de amor
Que catuca o amor feliz.
E esta lembrança de dor
Todo belo amor bendiz.