CORDELITO DA SAUDADE

DO LIVRO TOCATAS.

O que seria a saudade?

Um sentimento gigante?

Uma emoção acelerante,

Mas terna e aconchegante?

Uma dor não tão doida,

Uma insistente ferida,

Que nunca insinua partida?

Seria perfume e dor,

Dor e perfume envolventes,

Estonteantes e persistentes?

Seria tristeza temida,

Que teima em ser a preferida

E perturba nossa vida?

Ou nostalgia incontida,

Uma alegria dolorida,

Ou uma sorte perdida?

Seria um odor, amigos,

Que não se vê nem se toca,

Mas sua insistência nos choca.

E como uma pororoca

Nos envolve e nos provoca,

Impondo certos castigos?

Ou uma força-choque

Que nos fecha em pacote

Com terna dor e fricote

Que nos faz um réu da sorte

Num quase estertor de morte?

Sabemos ser dor sempre presente

Que não se vê; só se pressente.

Que como agulha contundente

Penetra fundo na gente,

Aguda e bem fortemente.

Ou seria flor que só se sente,

Com um perfume diferente,

Que estonteia corpo e mente,

Como se o mundo existente

Fosse força permanente,

Que sempre trancasse a gente

Nos amarrando pra sempre?

Saudade, dor dolorida,

Que nos deixa sem saída,

Nos atacando de frente,

Persistente e resistente.

Saudade é sempre um rói-rói,

Um sempre eterno dói-dói,

Que cada dia nos corrói,

Quase nos sufocando,

Quase a matar, não matando.

Mas é a dor preferida

Dos renegados da vida.

Consolo de despedida.

Cura pra muita ferida.

E nos soluços da vida

É o resto bom que nos fica.

Saudade é dor de amor

Que catuca o amor feliz.

E esta lembrança de dor

Todo belo amor bendiz.

João Bosco Soares
Enviado por João Bosco Soares em 10/05/2015
Código do texto: T5237139
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