Na lembrança eu levo tu

No sereno da invernada

Sou poeta da madrugada

Fuçador que nem tatu

Eu tiro verso da tabuada

Minha viola não nega nada

Carimbó, coco e embolada,

Faço rima com chabu.

Dessa vida não levo nada,

Te perdi pra essa estrada,

Mas na lembrança eu levo tu.

Sou violeiro de autoestima

Quase nada me amofina,

Só a falta de tutu.

Se avisto a tristeza na esquina

Olho firme bem pra cima.

A saudade me desafina,

Já me banhei no Pajeú.

Dessa vida não levo nada,

Te perdi pra essa estrada,

Mas na lembrança eu levo tu.

Sou tranquilo que nem riacho,

Mas não me faça de capacho

Eu viro um ferrão de candiru,

Coisa ruim eu já despacho,

Risco o céu que nem um facho,

Não gosto de estar por baixo,

Sou do norte e sou do sul.

Dessa vida não levo nada,

Te perdi pra essa estrada,

Mas na lembrança eu levo tu.

Sou mote que nasce de repente,

Som de viola tocando gente,

Bengala é que vai à frente,

Já dizia o velho Jaú.

Pra quem gosta de um repente

Que deixa a moça contente

E amansa cabra valente,

Sonso que nem boi zebu.

Dessa vida não levo nada,

Te perdi pra essa estrada,

Mas na lembrança eu levo tu.

Sou voz pequena nesse recanto,

Vira e mexe espalho um canto,

Não é canto de Uirapuru.

Não sei se agrado ou se espanto

Minha rima tem acalanto,

Tem cheiro de flor do campo,

Quem falou foi Marilu.

Dessa vida não levo nada,

Te perdi pra essa estrada,

Mas na lembrança eu levo tu.

Ademar Siqueira
Enviado por Ademar Siqueira em 09/06/2015
Código do texto: T5271325
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