Fui um menino trabaiadô/E nunca murrí pur trabaiá

Fui um menino trabaiadô

E nunca morri pur trabaiá.

Airam Ribeiro 31/08/2015

Tinha treze anos incompleto

Quando numa madrugada

O meu pai pegô a istrada

E sem sabê o rumo certo

Sem sabê, sem tê projeto

Saiu pelo mundo a andá,

Inda vi minha mãe falá

Vai com Deus por onde fô

Que ficarei com minha dô

E com os filhos pra criá!

Umas tábuas eu arranjei

Comecei logo a pensá

Sem nada para alimentá

Não é isso que planejei

Então logo eu comecei

Uma maneira de me virá

E fui para a vida enfrentá

E carregá o meu andô

Fui um menino trabaiadô

E nunca morri pur trabaiá.

Eu morava em Sobradin

Cidade do Distrito Federá

E cinco horas do matiná

Saia do meu leito quentin

Para enfrentar o friozin

Qua fazia naquele lugá

E saia sem nada recramá

Pro trabaio tava a dispô

Fui um menino trabaiadô

E nunca morri pur trabaiá.

No inicio não foi maravilha

A profissão de engraxate

Depois de alguns arremate

E para alimentá a família

Custumei, peguei a trilha

Comecei logo engraxá

Tantos sapatos a limpá

Nos tempos frios e de calô

Fui um menino trabaiadô

E nunca morri pur trabaiá.

Também vendí jornal

Pelas ruas da cidade

Tinha lá minha pouca idade

Mas achava isso normal

Vender isso na capital

Para a família eu sustentá

A noite era para estudá

Até qui o tempo passô

Fui um menino trabaiadô

E nunca morri pur trabaiá.

[ ... ]

E muito tempo lá se vão

Eu tô agora no presente

Numa nação indecente

Com tamanha corrupção

De crianças sem formação

Criada por uma lei imorá

Com a droga a lhe dominá

Sem sabê o qui é amô,

Fui um menino trabaiadô

E nunca morri pur trabaiá.

Pur não podê trabaiá

No ócio elas sempre tão

Com o revolvi ni sua mão

Um trabaio vai arranjá

Com um estatuto a faiá

E sem mostrá salução

Vai formano o cidadão

Pra votá a seu favô

Fui um menino trabaiadô

E nunca morri pur trabaiá.

Lá na escola não estuda

E não trabalha para o lar

Não gosta de dialogá

O zap zap lhe dexa muda

Deus pur favô nos acuda

Quando adulto ela ficá

São uns futuro marginá

Se as lei nun tivé sabô

Fui um menino trabaiadô

E nunca morri pur trabaiá.

No meu tempo meu sinhô

Nun tinha merenda escolá

Sem nada tê pra mastigá

A bolsa famia era a dô

E os meus verso ta a compô

Pra certas coisa relatá

De um futuro qui incerto tá

Sem as criança tê labô

Fui um menino trabaiadô

E nunca morri pur trabaiá.

Se essas lei nun fô mudada

Nóis vai vê os adolecente

Matano mais gente inocente

Por um celulá nas calçada.

Dê trabaio pras criançada!

É a única salução qui há

O revolvi quando atirá

Causa nas pessoa muita dô

Fui um menino trabaiadô

E nunca morri pur trabaiá.

Trabaio nunca foi castigo

Já mim dizia a falecida vó

No meu tempo nun era eu só

Era eu e muitos zamigo

Nunca axei qui foi pirigo

Trabaiá para o pão ganhá

Sou cidadão da hora h

Qui entra e sai adonde fô

Fui um menino trabaiadô

E nunca morri pur trabaiá.

Virô moda hoje in dia

E tudo é iscravização

Nun pode nunca mais não

A criança ajudá a famia

Cun essa lei de porcaria

Qui o istatuto foi batizá

Temos qui a criança amá!

É outra moda qui virô

Fui um menino trabaiadô

E nunca morri pur trabaiá.

Airam Ribeiro
Enviado por Airam Ribeiro em 01/09/2015
Código do texto: T5366466
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.