O CONFEITO DE NEINHA.>

Tô eu no cinema "Jardim"

Pertinho da casa do prefeito

Junto d'eu tá Neinha encolhida

Tímida, quieta sem jeito

Quando senti me futucando

Era ela rubra perguntando

Tu aceita um confeito?

Vindo de tu eu quero

Respondi meio alesado

Botei açúcar nos olhos

Adocei o meu pecado

Ensaiei voz de veludo

E respondi quase mudo

Sendo assim, muito obrigado!

Tava guardando pra tu

Disse assim aquela gueixa

De rostinho de romã

Com olhos cor de ameixa

Solfejando uma risadinha

Fez nascer umas barroquinha

Bem em cima das bochecha.

Guardei o confeito no bolso

Igualmente uma joia rara

E o artista daquele filme

Ficou com a minha cara

Fiquei leve igual a lã

Fui o herói e galã

Um famoso pau d'arara.

Puxei os olhos pra Neinha

Pra aumentar meu dilema

Nas orelhas um par de brincos

No cabelo um diadema

Vi uma santa na vitrine

Se ascendeu um magazine

No escurinho do cinema.

Duas coisas surgiu no mundo

De um caprichado perfeito

Eu pensei naquele instante

com um frivioco no peito

Foi Deus ter permitido

Neinha ter nascido

E a invenção do confeito.

Fitei na tela do cine

Igualmente um sentinela

Esmoreci o meu braço

Feito pano de flanela

Ralei a mão de mansinho

Montei o dedo mindinho

Em riba dos dedinhos dela.

Pronto, sumiu o cinema

Arrepiei o cabelouro

Herói, mocinha e bandido

Pirata, navio ou tesouro

Foi fichinha sem valia

Fiquei ceguinho de guia

Tropeçando no namoro.

No bolso da minha camisa

Levei a mão e pensei

Na guloseima do céu

Que de Neinha ganhei

E resolvi debulhar

O que tava no pensar

E pensando eu debulhei:

Que me desculpe o manjar

O mousse e o pudim

Os brigadeiros de festas

O bolo e o quindim

E que o açúcar tem feito

Não tem melhor que o confeito

Que nninha deu pra mim.

Tu não é só um confeito

Em um papel enfeitado

Eis mais que uma rapadura

Mais que melaço de gado

Tu é confeito com patente

Eis dos confeitos um tenente

Eis um rei açucarado.

Foi assim que aconteceu

Esse caso, esse feito

Romance fora da tela

Mais teve um final perfeito

Três personagens em flama

Sem ter gloria e nem fama

Neinha, eu e o confeito.

Ebenézer Lopes
Enviado por Ebenézer Lopes em 03/11/2015
Código do texto: T5435986
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