A TRAGÉDIA DE MARIANA E SUA AGRESSÃO AMBIENTAL

A TRAGÉDIA DE MARIANA

E SUA AGRESSÃO AO MEIO AMBIENTE

autor: José Rodrigues Filho

O que é ser um Beiradeiro?

Vou te explicar meu irmão:

É ter nascido em beiradas

De rios, sem distinção

De largura ou comprimento

De correnteza ou vazão.

Equivale a Ribeirinho,

Como se diz lá no Norte.

Difere de Tabaréu

Que é pejorativo forte

Pra designar àquele

Que é culturalmente um poste.

No Ceará se compara

Matuto com Beiradeiro,

Mas o primeiro é da mata

E o segundo é barranqueiro,

O certo é que ambos podem:

Possuir ou não dinheiro.

Na vastíssima Amazônia

Vive o povo Ribeirinho,

Às margens dos grandes rios,

Tendo o Índio por vizinho

Que tratam os rios e as matas

Com respeito e com carinho.

Embora sem dominarem

A educação global

Deram exemplos ao mundo

De maneira ambiental

Que rio e floresta são:

O fator primordial.

Pra se manter o planeta

Com um clima tolerável

Freando o aquecimento,

Já em nível deplorável,

Só sustentabilidade

Faz este mundo viável.

O modo capitalista

Explora o que é bem rentável

E só enxerga o ser humano

Como um toco violável

Seu paradigma é o lucro

Seu sistema é condenável.

Têm valor os minerais

Extraídos do ambiente...

Não importam as florestas

Nem a água nem a gente

Que componham o ecossistema

Tudo lhe é indiferente.

Florestas desaparecem,

Os solos são devastados

E os rejeitos minerais

Pra os rios são carreados

Deixando um rastro de morte:

Buracos abandonados.

Chega até doer na alma

Ver o crime acontecendo,

Florestas virando cinzas

E toda fauna morrendo,

Comunidade arraigada

As suas terras perdendo.

Ocorrem outras tragédias

Em áreas mais habitadas,

Onde barragens mal feitas

São geralmente estouradas

Pelo excesso de rejeitos

E águas contaminadas.

A barragem mais barata

É construída à montante

Usando o solo da mina

Já lavado e abundante,

Quando deveria ser

Barro virgem e à jusante.

Visando reduzir custo

E mais dinheiro ganhar,

Vidas pouco têm valor

Na hora de se implantar

Uma barragem de terra

Pra rejeito armazenar.

Não se dão nem ao trabalho

De um sistema instalar

Para alertar as pessoas

Se a barragem estourar,

Isso contribuiria

Pra muitas vidas salvar.

Devido à grande ganância

Por parte dos empresários

Barragens são construídas

Sem cuidados necessários

Para suportar pressão

Vinda de outros emissários.

A Vale do Rio Doce,

Mãe e matriz da Samarco,

Despejava percentagem

Em um nível até parco,

Mas decerto não cumpria

O que rezava o contrato.

E essas duas empresas

Sem medo de punição

Desrespeitaram contratos,

Sem pensar no cidadão,

Criaram o maior desastre

Que já viu esta Nação.

A Vale jogando além

Do que estava contratado

E a barragem de Fundão,

Que há muito havia trincado,

Rompeu-se ruidosamente

Seu caldo foi liberado.

Alguns dos trabalhadores

Não conseguiram escapar,

Levados pela enxurrada

Mortal, ao se deslocar,

Os corpos foram achados

Bem distante do lugar.

Sem sirenes pra avisar

Que, a barragem ruíra,

Bento Rodrigues um distrito

Ainda não pressentira

Que a lama estava chegando

E parte das casas cobrira.

Prédios de até dois andares

Sucumbiram sob a lama,

Paracatu imergindo

Aumentando aquele drama

Tirando do mapa dois

Distritos de Mariana.

Quem desse o azar de ser

Pela torrente alcançado

Dela não escaparia,

Pois por ela era sugado,

Gente, bovino, ou cavalo,

Tinham o destino selado.

Quem escutava o ruído

E percebia o perigo,

Procurava um lugar alto

Buscando encontrar abrigo,

Isso salvou muita gente

E algum animal sabido.

A esperança do povo

Da região acabou-se,

Pois toda lama escorria

Direto pra o rio Doce,

Matando qualquer vivente

Que com ela enlameou-se.

A lama saiu de Minas

E entrou no Espírito Santo,

Vindo pelo rio Doce,

Causando no mundo espanto,

Pois tal desastre ecológico

Não se vira em outro canto.

E no rio Doce a lama

Descia para o oceano

E, ia deixando nas margens

Sofrimento e desengano,

Dizimando animais

E molestando o ser humano.

Beiradeiro e Ribeirinho

Foram os que mais perderam,

Isso falando de gente,

Com os fatos que aconteceram

Aviltando a economia,

Pelas perdas que sofreram.

Com seus produtos nocivos

A lama tóxica adentrou

Por afluentes e pântanos,

Toda baixada ocupou,

E a microflora nativa,

Totalmente ela matou.

Por fim chega ao oceano

Com seu legado mortal,

Colocando apreensiva

A ciência mundial

Que viu neste acidente

Um desastre universal.

A mineradora Vale

Como também a Samarco,

Não agem corretamente

Seu apoio têm sido fraco

Pra definitivamente

Tapar seu grande buraco.

Quase quinhentas barragens

Desse tipo em Minas há,

Ou gente vai pra cadeia

Ou isso não mudará:

Rico cada vez mais rico,

E ao pobre Deus proverá.

Termino aqui estes versos

Que não faço por dinheiro,

Foi mais pra prestigiar

O Matuto, o Catingueiro,

Tabaréu e Ribeirinho,

Finalmente, o Beiradeiro.

Amélia Rodrigues-Ba. 15 de dezembro de 2015.

José Rodrigues Filho
Enviado por José Rodrigues Filho em 24/12/2015
Reeditado em 02/10/2017
Código do texto: T5490194
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