MATUTO ISPRITADO

Nem o canto do azulão

Alegra a minha sina,

A luz dos olhos de Catarina,

Era a luz do meu sertão.

Eu agora capiongo sem cajuína,

Arriado nos ventríco do coração,

Mudo feito poste de esquina,

Sem prumo e sem direção.

Onde andará Catarina?

Que levou o meu coração,

Minha estrela matutina,

Bateu asa do sertão.

Ela embiocou sem paradeiro,

Será que foi pra Juazeiro?

Deixando esse matuto brejeiro,

Arriado de quatro no chão.

Pebado, fiquei logo empriquitado,

Numa cisma de se danar,

Será que ela fugiu com Aderardo?

O filho bunito do seu Osmar.

Eu num aceito ser engabelado,

Mando tudo no inferno se lascar.

O improvave já tá provado...

Nem precisa me contá!

Vige, mas eu viro um touro zuadento,

Vexado feito visage de aparição,

Faço três reza pro meu São Bento,

Me benzo pra mode proteção,

Depois dô tapa até no vento,

Fervendo feito lava de vulcão,

Lhe juro pelo coice dum jumento,

Se hoje Catarina num volta pro sertão.

Já de noite por volta das nove hora

O busão na rodoviária encostou,

Desce ela e o véio Juca de Lóra

Que sem demora tudo me contô,

Meu bem, lhe juro por nossa Sinhora,

Só num chegava proquê o carro quebrô.

Eu já num via a hora de vim embora,

Fui só na cidade na loja de seu Nonô.

Manso feito um pardal de igreja,

Matuto, leso feito um bocoió,

Por dentro, amargo que nem carqueja,

Por fora, suave feito canto de curió

Em casa servi suco na bandeja

E na tijelinha servi caldinho de mocotó.

Catarina pra sacolejar minha peleja,

Disse que amanhã vai lá em Caicó. Aff...

Ademar Siqueira
Enviado por Ademar Siqueira em 04/02/2016
Reeditado em 22/11/2016
Código do texto: T5533835
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