Como passar sem dinheiro

Robson Renato

Você está namorando

Com uma garota bela,

Que agora está morando

No topo de uma favela.

Mas no morro é constante

Bloqueio de traficante

Cobrando do forasteiro,

Pra subir tem que pagar

E agora pra namorar

Como faz sem ter dinheiro?

Francisco Evangelista

Dou uma de retardado

Totalmente sem noção,

Digo que estou intimado

A falar com o chefão.

Fui expulso do quartel

Por ter fama de cruel

E também sou fuzileiro,

E por aqui hoje ando

Porque quero entrar pro bando

E assim entro sem dinheiro.

Francisco Evangelista

Seu sogro lhe convidou

Para uma pescaria,

Vai ser ao raiar do dia

Mais o seu barco quebrou.

Sem querer fazer desfeita

Alugar ninguém aceita

Sem avalista primeiro,

Emprestar ninguém confia

Pois se livre dessa fria

Como faz sem ter dinheiro?

Robson Renato

Minha sogra é gente fina

E me abre o seu quintal,

Lá no fundo da faxina

Vejo um grande bananal.

Com o facão corto uns talos

Com cordões vou amarrá-los

Pois eu já fui jangadeiro,

Pode até não ficar boa

Mas fabrico uma canoa

Sem precisar de dinheiro.

Robson Renato

És um fã de coração

Dessa dupla dos Nonatos,

Que hoje apresentarão

Um show no clube de Patos.

A mesa é muito cara

Mas você está na tara

Pois também é violeiro,

Se um vintém não achou,

Pra ingressar nesse show

Como faz sem ter dinheiro?

Francisco Evangelista

Na fila vou à procura

De alguém que esteja só,

Dessas velhas na loucura

Pra sair dó caritó.

Vou me aproximando dela

Jogo meu charme pra ela

Dou um beijo bem ligeiro,

Deixo ela bem gamada,

Ela paga minha entrada

E assim entro sem dinheiro.

Francisco Evangelista

Seu cordel foi contemplado

Em uma premiação,

Vai ser noutra região

E já está organizado.

Pra viajar é preciso,

Tu tá danado de liso

E tem que ir bem ligeiro,

Você estar enrolado

Passagem não vende fiado

Como vai sem ter dinheiro?

Robson Renato

Chegarei para o prefeito

Todo cheio de vontade,

Dizendo que fui eleito

Portador dessa cidade.

Mas pra ser representado

E no discurso citado

Ele tem que ser ligeiro,

No dinheiro ele me testa

E eu digo que ele não presta

Premiado e sem dinheiro.

Robson Renato

Sua prima Sacramento

No domingo vai casar,

E nesse acontecimento

Você não pode faltar.

Procurando em sua mala

Tu não ver terno de gala,

Só tem roupa de roceiro,

Antes que badale o sino

Vista um traje sport fino

Sem precisar de dinheiro.

Francisco Evangelista

Um alfaiate novato

Chegou na minha cidade,

Vou lhe encontrar de fato

Com muita facilidade.

Chego e falo: cidadão

Eu vou pra televisão

Expor no programa inteiro,

Seu terno é o melhor dá praça!

O meu ele faz de graça

E assim visto sem dinheiro.

Francisco Evangelista

Te convidam pra uma festa

Você está desempregado,

Seu sapato está furado

E para dançar não presta.

Dinheiro você não tem

Cartão não usa também,

Tem fama de caloteiro.

Sem no bolso um trocado

O quê faz pra ir calçado

Como vai sem ter dinheiro?

Robson Renato

Meu avô morreu foi rico

E deixou um velho baú,

De madeira de angico

E a tampa de couro crú.

Dentro tem ninho de rato,

Mas tem um par de sapato

Precisando dum graxeiro,

Chegando lá em vovó,

Passo a veia no gogó

E me calço sem ter dinheiro.

Robson Renato

És filho desse sertão

Daqui nunca se ausentou,

Mas para uma excussão

Seu primo lhe convidou.

Irão pegar a estrada

Para Canoa Quebrada,

Programa de farofeiro,

Mas pra pagar a passagem

E os gastos da viagem

Como faz sem ter dinheiro?

Francisco Evangelista

Bem na hora do sufoco

Fico de braço estirado,

Pro cobrador apressado,

Eu digo: quero meu troco!

Pois não se faça de louco

Foi eu quem paguei primeiro.

Embora não se convença,

Minha passagem despensa

E eu viajo sem dinheiro.

Francisco Evangelista

Seu time do coração

Hoje joga na final,

E como vai ser local

Não sai na televisão.

Você precisa assistir

E grana não tem pra ir

Já entrou em desespero,

Eis um torcedor tão forte,

Mas sem ingresso e transporte,

Como vai sem ter dinheiro?

Robson Renato

No campo eu chego cedo

Fico prestando atenção,

Olhando todo enredo

De quem chega no portão.

Quando ver um conhecido

Invento um acontecido

Mando pra casa ligeiro,

Na agonia do regresso

Lhe peço o seu ingresso

E vou assistir sem dinheiro.

07/09/2016

Robson Renato – Pau dos Ferros/RN

Francisco Evangelista – Ilha de Paquetá/RJ