A feira de Pio IX
Vinham tropas do interior
De surrão abarrotado
Arroz, milho e rapadura
Vender na feira de sábado
Nesse dia o boi morria
O negócio era animado
Tinha todo o necessário
Fumo, goma e chocalho
Chapéu de couro, arreio
E remédio para o gado
Roupa, tecido e fazenda
Era bem movimentado
O dia era pra negócio
E de confraternização
Uns levavam a farinha
E voltavam com feijão
No almoço a carne fresca
Alimentava a união
A farmácia de Seu Elói
Era mais uma atração
A sala cheia de gente
Procurando solução
Remédio para o doente
E do inverno a previsão
Nos produtos da mandioca
Os Arruda eram destaque
Seu Zuca e Zeca Bilóia
No Mercado eram empate
Tinha aferição nas medidas
Nada de roubo ou desfalque
O pátio lá do mercado
Se enchia de caixão
Com produtos variados
Dava gosto e satisfação
No ouro branco, o forte
Era o bom Zezinho Antão
Tinha produto da terra
E coisa que vinha de fora
Do agreste, a rapadura
Em animal sob espora
De Picos, as tranças de alho
Chegavam sem mais demora
Queijo, manteiga-da-terra
Borracha de maniçoba
Pele de gado ou miunça
E outras coisas da roça
Alpargata de rabicho
Tinha tudo que era troça
Era um desfile de moças
Em suas celas montadas
De vestido ou saia longa
Pantalona completava
Tocador de "pe-de-bode"
Nos cafés se abancava
Quem não era de negócio
Vinha pela boa prosa
Tomar pinga nas budegas
Rir de conversa jocosa
Ou arrumar namorada
Na feira maravilhosa
De Vertentes a Mercador
Ainda tem feirante nato
Só mudaram as medidas
Não se vende mais no prato
São produtos de primeira
Desse meu povo arretado
Nossa feira mudou muito
Mas se mantém na história
Vá no sábado em Pio IX
Dia de encontro e de glória
Interagir com os feirantes
Manter viva essa memória.
(27/05/2017)
Cordel baseado em releitura do texto "A feira de Pio IX", de Zezinho Bezerra, em informações do livro "Minha vida nos Baixios", de Odon Alencar, e entrevista com Audomi Alencar.