A ROSA BRANCA.

Minha rosa amarela

Mudou de cor outro dia

Ficou branca na janela

Sem ser a cor que eu queria

Eu fiquei sem entender

Como pode proceder

Uma rosa mudar de cor

Invertendo o papel

Sem ter tinta nem pincel

Muito menos o pintor.

Eu procurei no jardim

Se havia rosa branca

Só vi a flor do jasmim

Nessa minha busca franca

Rosas só as amarelas

Perfumadas e singelas

Todas com a mesma cor

Então como a tal rosa

Delicada e formosa

Mudou o seu esplendor?

Canário muda de pena

Cavalo muda de pelo

O drama muda de cena

A moça muda o cabelo

O tronco muda a lasca

Cigarra muda de casca

E velho muda o vigor,

O tempo muda a ferida

Mas eu nunca vi na vida

Uma rosa mudar de cor.

Perguntei a natureza

O motivo do tal feito

Ela com toda franqueza

Respondeu-me desse jeito:

"Tua mãe mora distante

E tua falta contante

Pesou na sua idade

Por isso seu coração

Se vendo na solidão

Adoeceu de saudade"

"Sem ter ninguém pra chamar

Neste momento ruim

Viu um colibri voar

Na roseira do jardim

Pediu então com carinho

Ao miúdo passarinho

Que lhe dese um recado

Pra o seu filho distante

Que sua mãe nesse instante

Lhe havia perdoado.

Comovido o colibri

Indagou todo o jardim

Como fazer pra cumprir

Tão triste missão assim,

Pois não era de paragens

E sua asas tão frágeis

Não alcançavam distancia,

Então a pequena ave

Sentiu no peito entrave

Se vendo sem importância.

Bromélias e margaridas

Violetas e crisantos

Se juntaram aguerridas

Comovidas num só pranto

Pedindo para a roseira

Encontrar uma maneira

Pro recado ser ouvido

Pois o colibri coitado

Não podia ser culpado

Por não fazer o pedido.

A roseira experiente

Exalou o seu perfume

Como uma prece plangente

Expandiu-se toda em lume

Me pedindo com franqueza

Pra sua mãe natureza

Atender o seu clamor,

Pois já se findava o drama

Secando sobre uma cama

Murchava uma outra flor.

Por isso a tua flor

Amanheceu diferente

Pintada de outra cor

Para te dizer somente:

Que a tua mãe querida

Já foi uma flor na vida

Com toda pureza franca

Hoje já não tem jardim

Por isso ficou assim

Essa tua rosa branca.

Corri pra minha janela

Aguar a minha rosa

Antes toda amarela

Agora branca, chorosa

Com a cor da despedida

Tentei ainda dá vida

Porem foi só um encanto,

Hoje no jarro da dor

Lhe cultivo com amor

E lhe rego com meu pranto.

Ebenézer Lopes
Enviado por Ebenézer Lopes em 06/08/2017
Reeditado em 02/11/2017
Código do texto: T6075715
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.