O despertar da Guatemala
Os “States” querem bananas
Pra suprir seu consumismo
E tem terreno sobrando
Dos libertos com heroísmo
Ainda é cedo festejar
Pois a harpia está a planar
Planejando o banditismo
Agora as nações latinas
Terão outro embaraço
Se livrar do olho grande
Daquele João-sem-braço
Que quer fazer de quintal
Toda a América Central
Cuidado com este palhaço
Por que dizia o governante
Da grande potência ao Norte
– Fale baixo e harmonioso
E tenha à mão peroba forte
Porque o nosso domínio
Se suspeitar o declínio
Justifica toda morte
Ao Vinte se abrindo as portas
Vem à luz a suserana
United Fruit Company
Heil! a rainha da banana
Que fez do lote latino
Um trono semidivino
Sob o rifle e a catana
Conhecida La Frutera
Outra alcunha é mais precisa
Pode chamá-la El Pulpo
Sua era não é concisa
Império tentacular
Então se ponha a trabalhar
A seus mandos não há brisa
A banana é o carro chefe
Pra suprir grande mercado
Centro-América e Caribe
O terreno apropriado
Mas será na Guatemala
Produção em maior escala
A sede do califado
Governada por incautos
Ditadores adestrados
Ganhara glebas de terra
Tudo o mais a seu agrado
Com precioso recheio
Controle sobre os correios
Ferrovias e portos. "Brigado!"
Do cultivo a ferrovia
Puerto Barrios é o destino
Pro oceano toda a carga
Sob imposto clandestino
É dona da Guatemala
A mais cordial vassala
Que roubado foi-lhe o Hino
El Pulpo se acomodou
Em estrutura de bom concreto
Difícil de anular
Por tão perfeito afeto
Com certo general Ubico
Outro fantoche milico
Latifúndio há pros bisnetos
Ditador inconsequente
O povo já o rejeita
Aceite agora sua queda
Não o apoia nem a direita
Arévalo é o novo nome
A ajudar quem passa fome
Não há nele servil suspeita
Governo de bom presságio
Melhor pra população
Promovida a reforma
Com nova Constituição
Com Código Trabalhista
Mais valiosa conquista
“Alguém” sentiu a contusão
Deixou pra seu sucessor
Também autêntico eleito
Capitão Jacobo Arbenz
Sessenta e cinco no pleito!
Guatemala em democracia
Não é bom para a Companhia
Quer logo encontrar um jeito
Com "El soldado del Pueblo"
As reformas ferem em morte
Quem teve tudo de graça
Da ditadura consorte
Distribuição de renda
Agora é parte da agenda
O líder tem pulso forte!
República Guatemala
Quer livrar-se do grilhão
Nacionalizar riquezas
Terras têm expropriação
Vão valer reforma agrária
Divisão igualitária
Pra acabar a improdução
Ao camponês assoldado
Sua escritura da partilha
É dono de sua cota
Diga adeus para a Bastilha
Plante com toda paixão
De batata a pimentão
Está livre da matilha
A direita se levanta
Ofegante em sua fúria
La Frutera arma o bote
Sofre a penosa penúria (?)
Vai aproveitar a pista
Da América macarthista
Recompor sua luxúria
O golpe é iminente
O pretexto já é sabido
– Rotule Arbenz comuna
E o sucesso é garantido
Quer apoio popular?
Basta Moscou sussurrar
Deixe o povo abatido
– Acione o New York Times
O que fala vira lei
Nossos grandes acionistas
Sobre os riscos alertei
São os grandes no Capitólio
Credores do monopólio
Não largam vida de rei
– E não se esqueça da CIA
Allen Dulles é comparsa
Não há melhor candidato
Pra contribuir com a farsa
Arbenz será derrubado
A Guatemala é meu Estado
A trama está bem esparsa
Planejamento exemplar
De uma ação imperialista
Derrubaram o presidente
Com estratégia calculista
Mercenários boçais
Verdadeiros canibais
Garantiram "La Fascista"
Por dez anos grandiosos
Esta sim foi a Guatemala!
Que Arévalo e Arbenz
Com o povo ganharam fala
Esta foi uma Terra Nova
O social foi sua prova
Foi cerimônia de gala!
Que a História há de contar
E dar cabido conhecimento
Deusa Clio é imparcial
E assim faz seu julgamento
E ao povo da terra Maia
Brioso, não morre a praia!
Ganhou o seu monumento!