A BARAÚNA!!!

Baraúna, velha amiga,

Que ao tempo ainda resiste

Desprezada, abandonada

Abatida, fraca e triste,

Só a lembrar de um passado

Outrora vivenciado

Prazeroso e tão feliz!

Desse período de glória

Resta somente a memória

Em forma de cicatriz.

A tua fronde gigante

Tão bela, fenomenal,

Levava a sombra arejada

Lá pra o meio do curral,

E quando o vento açoitava

A galhada balançava

Num suave vai e vem

Hoje não é mais tão forte

Perdeu o talhe e o porte

E a beleza está aquém.

Embaixo da tua copa

Sempre a rotina era assim

Guardava ração pra o gado

Palma, forragem, capim,

Servia como aposento

Pra o cavalo, pra o jumento,

Pras vacas, pra bezerrada.

Ontem, tanta agitação,

Hoje é só desolação

E abandono, mais nada.

Já foi palco de alegria

Assim como de tristeza,

Tua estatura elegante

Demonstrava com clareza

Que entre tantas árvores belas

Tu rodeada por elas

Era destaque em figura,

Por se tratar de um gigante

Que reinava triunfante

Com trinta metros de altura.

O teu semblante servia

Por ponto de referência,

Teus ramos aconchegantes

Estavam na preferência

De diversos passarinhos,

Que ali faziam seus ninhos

Com segurança e primor

Sem entrave ou embaraço

Usando esse teu regaço

Como um colo acolhedor.

Do alpendre do casarão

Em que ficavas em frente

Eu estava observando

Bem antes do sol nascente

O cantar das belas aves

Com seus gorjeios suaves

Anunciando a aurora

Cumprindo a doce rotina

Aquela orquestra divina

Vinda do seio da flora.

Os saudosos tempos idos

Transformaram nossos planos

E já nos deixou sentindo

O peso dos longos anos

Hoje aqui estás sozinha

E eu, distante da terrinha,

Que ainda é tudo pra mim

Foi meu primeiro endereço

Dela, jamais eu me esqueço,

Até que chegue o meu fim.

E assim minha velha amiga

Jamais me esqueço de ti

E quando a saudade aperta

Sempre venho até aqui,

Para te dar um abraço

E manter firme esse laço

Que sela a nossa amizade

E nesse breve intervalo

Vamos pegando o embalo

No galope da saudade.

Carlos Aires

12/10/2017