República da Estrela

Ano de miloitocentos

na década de oitenta

no sertão paraibano

um povo experimenta

uma decisão humana

emoção republicana

e de cabelo na venta.

Pra começar do começo

o nome do penitente

o cabra Zuza Lacerda

imigrante cearense

botou-se pro lado de cá

e trouxe no seu borná

um futuro competente.

Segundo o escritor

o Antônio Décio Pinto

da história o relator

por isso aqui não minto

deu margem pra se grafar

e foi João Bosco Gaspar

que escreveu e foi sucinto.

Assim disse o escritor

espaiano seu letrêro

que foi bem no fim dos tempo

do império brasileiro

que o povo foi pensano

num jeito republicano

pra se soltar no terrêro.

A fraqueza no governo

de nosso imperador

o de Dom Pedro II

que perdia seu valor

ajuntou-se a uma seca

sem falar de seu Fonseca

um militar sonhador.

Passado o aperrei

da seca que dizimou

o sertão que era palha

com a chuva se animou

a babuge arrebentava

o mufumbo fulorava

novo gado se comprou.

O vale do Piancó

com o chão a verdejar

comprava do Piauí

e também do Ceará

o seu rebanho bovino

e também alguns caprinos

sem carecer budejar.

Por conta desse traquejo

e naquela boa altura

tomou pouso um tangerino

lá em São Boa Ventura

que hoje tiraram o São

e nessa povoação

se fez nova criatura.

O moço Zuza Lacerda

forasteiro e tangerino

de estatura mediana

que deixou de ser menino

tinha as faces rosadas

olhos azuis esmeralda

e já senhor de seu tino.

Trazia uma boiada

para uma compradeira

chamada Donária Leite

uma mulé criadeira

virou vaqueiro da dona

casou-se com Dona Ana

cunhada da fazendeira.

No resultado da soma

fincou os pés no lugar

e com o seu destemor

começou a prosperar

botou-se a comprar terra

na vazante e na serra

e começou enricar.

Com dinamismo e visão

foi se tomando sustança

na fazenda Curral Velho

que nem osso de criança

a coisa virou fartura

ajuntou-se criatura

povoado e emboança.

Era milho e algodão

cana-de-açúcar e arroz

tudo ali prosperava

com engenhe puxado a boi

no curral acontecia

quando uma vaca paria

vinha logo era de dois.

Atendendo Padim Ciço

uma igreja construiu

um frade de Baixa Verde

uma missa lhe assistiu

e Curral Velho crescia

com riqueza e alegria

passaria logo mil.

Com o crescer de seu Zuza

sua fama se espalhou

e até pra cangaceiro

seu Zuza se preparou

de longe vinha boato

o grupo dos Viriato

desdenhava o Criador.

Esse grupo carniceiro

de bandido esfolador

estremecia o sertão

com estórias de horror

e num rái de 20 légua

esses fio duma égua

espalhavam o terror.

Mas com orde do guvêrno

Zuza Lacerda armou

um magote de capanga

e os Viriato acochou

num durou uma semana

fez nego chupar da cana

que nem o diabo chupou.

Esmagada a resistência

escapou sobreviventes

perseguiu por mais um mês

a cambada dos valente

na Fazenda Genipapo

deu o último supapo

no derradêro insurgente.

Por conta da valentia

Zuza teve o peitoral

patente de coroné

da guarda nacional

e uma farda vistosa

que nem fosse da briosa

em festa especial.

Ficando nesses confóime

o hôme se assuntou

de amizade subiu

deixou de ser eleitor

partiu pra ser deputado

e cumprindo seu mandato

foi assim que se elevou.

Zuza fez amigo-irmão

Desembargador José

Peregrino de Araújo

sua carta de melé

que eleito presidente

da Paraíba valente

levou um arrasta-pé.

Era milinovecentos

não se falava em lagoa

o seu grande opositor

o Epitácio Pessoa

empossou seu escolhido

Peregrino preterido

Zuza levantou a proa.

Para garantir a posse

do amigo Peregrino

o exército de Zuza

do sertão veio a destino

e com força especial

fez em nossa capital

o rumo voltar pro tino.

Um genro de Peregrino

que também se elegeu

na mesma propositura

que Zuza também se deu

foi bem mais paparicado

e Zuza caiu de lado

do que podia ser seu.

Com seu domínio minado

por outro legislador

invadiu Misericórdia

no dia do eleitor

com medo da perdição

interrompeu a eleição

de Venceslau vencedor.

Ganhando Venceslau Lopes

reduto do coronel

diminuindo o valor

que era de seu papel

entrava em desespero

perdia papa e papeiro

e as estrelas do céu.

Arretou-se o coronel

pra mostrar ao presidente

coragem não lhe faltava

e muito menos patente

e por ela ainda tê-la

“República da Estrela”

passa ser independente.

Impostos nunca mais

Curral Velho foi banida

a República da Estrela

passa ser reconhecida

independente de tudo

presidente vira mudo

pr´esse vão da Paraíba.

Foi criado um Ministério

para o país ministrar

o seu filho Irineu

ministro de guerrear

quem já viu uma nação

sem a força de um canhão

poder se alevantar?

O Ministro da Fazenda

outro filho escolheu

foi o cadete Lacerda

que na escola aprendeu

quem tem dois conta com um

e um pé de girimum

bota de dois que nem eu.

Pra Ministro dos Transportes

um tropeiro de postura

escolhido na nação

antiga Boa Ventura

que transporte em segurança

o que se faz de lambança

produção de rapadura.

Relações Exteriores

escolheu-se o Major Sula

em sua polifonia

de tamanha belezura

sabe bem polifonez

e até entende inglês

entende também de usura.

Agora vem o pior

eu nem queria contar

eu acho que endoidaro

ou num sube assoletrar

Zé Zuza um neto seu

eu nem sei se já morreu

ou tá vivo no lugar.

Foi Ministro da Marinha

em um mar feito de pó

pesquisei em todo canto

até a vista dá nó

num encontrei no meu mapa

nem no mei e nem na capa

oceano em Piancó.

Dizem qu´essa brincadeira

pode ter durado um 3

se foi dia num tá claro

pode até ser uns 3 mês

minha santa paciência

me deixou uma durmência

conte uma eu conto seis.

No final o coroné

desistiu da aventura

se escondeu no Ceará

nascido de escritura

foi julgado em Pombal

mas livrou-se afinal

dessa sua diabrura.

Muito se fala em Canudos

Contestado e até Zumbi

Caldeirão de Santa Cruz

Sum Paulo, Piratiní

porém nessa nossa estrela

num cordel quis escrevê-la

que aconteceu bem aqui.

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Narrativa verídica de uma ocorrência pautada em histórias pouco contadas de nosso povo.

Marco di Aurélio
Enviado por Marco di Aurélio em 27/10/2005
Código do texto: T64292