Indiana

Em terreno de tradições

Onde homem é o mentor

É fardo crescer mulher

Aos olhos do protetor

Nasce sob caras feias

Desprezada nas aldeias

Dá custo ao progenitor

Há quem escolha se livrar

Deste feminino feto

O aborto vai isentar

A família do desafeto

Ainda que venha a nascer

Vida efêmera vai ter

Luz ceifada por decreto

A mulher que sobrevive

E chega a vida adulta

Não há muito a comemorar

Não se livrará da multa

Educada pra família

Imposta a fiel vigília

Renúncia à ideia culta

Vida dedicada ao macho

Grande provedor da gene

— Tenha sua permissão

Se quiser bem estar solene

Se não, preste-se aos filhos

De preferência, meninos

Sua honra é ter quem ordene

Entre tantas subalternas

Há outras tantas despertas

Sem desrespeitar as regras

Têm consciência liberta

Querem muito estudar

Sábias, vão filosofar

Flertar novas descobertas

Jyoti Singh Pandey

Bela jovem indiana

Fisioterapia formada

Em uma sociedade insana

Da família pobre, o orgulho

A incultos, fez barulho

— É uma jovem leviana

Acuada por seis selvagens

Da Índia grandes senhores

São homens, têm autoridade

Por tradição tomam dores

Lugar de moça direita

Em casa, com o pai a espreita

Vão fazer cumprir os valores

Espancada sem piedade

Pelo estupro, humilhada

Uma hora de martírio

Depois, na rua jogada

Jyoti caiu no mundo

De símbolos cruéis, imundos

Direito à mulher: CALADA

A bela foi mutilada

Internada agoniza

Treze dias aflição

Sua desgraça eterniza

Seu óbito imperdoável

Por cultura inviolável

Que a liberdade, exorciza

O caso bruto de Jyoti

Pouca coisa está mudando

Estupro e assassinato impunes

História da Índia manchando

A responsabilizada

Aquela que em hora marcada

Não está em casa cozinhando

Situação complicada

Difícil compreender

Quando membros da família

A criança mulher não acolher

É quem garante a geração

E faz da Índia, nação

Fino trato há de receber!

FERNANDO NICARAGUA
Enviado por FERNANDO NICARAGUA em 02/02/2019
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