Suicidio: A travessia da dor

Em minha juventude

Me achando inteligente

Pouco sabia da vida

Como é difícil ser gente

Eu julgava o suicídio

De forma intransigente

II

Eu dizia que as pessoas

Tinham por obrigação

Dar conta de viver

Em qualquer situação

Sem saber quais os motivos

Das dores do irmão

III

Alguém se suicidava

A qualquer hora do dia

Em minha imaturidade

Eu, sem noção dizia

Não quis enfrentar a vida!

Foi ato de covardia!

IV

Hoje aos 52 anos

Com a sábia maturidade

Vejo a vida com outros olhos

Com mais humanidade

Sabendo que nosso mundo

Precisa de solidariedade

V

Solidariedade não é

Doar o que não lhe presta

É dar carinho dar amor

Com a amizade fazer festa

Visto que com indiferença

Desalento é o que resta

VI

Pense na situação do mundo

E em como está o Brasil

Vivendo desarmonias

Um momento tão hostil

Homens sem trabalho

Na sociedade civil

VII

Muitos desistiram

Até mesmo de procurar

Com os pés calejados

Não conseguem mais andar

Bater na porta das empresas

E sempre um não encontrar

VIII

Somos o que somamos

Ao longo de nossa existência

Uns conseguem ter mais força

Coragem, resiliência

Outros fragilizados

Muito sofrem, sem resistência

IX

Vemos nas tvs

Vídeo encorajador

De pessoa que de empregado

Hoje é empreendedor

Apesar do incentivo

Tem marketing avassalador

X

É necessário coragem

Para fazer empreendimento

Despojamento, dinheiro

E muito planejamento

Estudo de mercado

Para o seu investimento

XI

Hoje é fácil iniciar

E nova empresa abrir

Sem estudo de mercado

Tudo tende a ruir

Dura pouco tempo

Poucas conseguem fruir

XII

Tudo é possível

É difícil, mais crede

Se de solidariedade

Fizermos uma rede

Alimentar a quem tem fome

Dar água a quem tem sede

XIII

Nas igrejas se rotulam

Que Deus é fiel

Muitos se acham santos

Que fazem o seu papel

Sem interpretar a palavra

Os irmãos amargam fel

XIV

Deus ama a todos

Não importa a religião

Se Deus é único

Não deve haver separação

Deus não discrimina

Nunca fez distinção

XV

Relato minha experiência

E vivencia pessoal

Tinha raiva do meu pai

Um ódio quase ancestral

Por não assumir seus filhos

Uma revolta que faz mal

XVI

Até meus quinze anos

Busquei aproximação

Sua indiferença

Aumentou a sensação

Resolvi esquecê-lo

Tirá-lo do coração

XVII

Tenho orgulho de minha mãe

Que se doou por inteira

Sacrificou sua vida

Que foi breve, passageira

Deus cedo levou

A minha mãe guerreira

XVIII

O tempo passou

E eu não via mais meu pai

Não escondo a revolta

Que o pensamento me atrai

Um, tem força e levanta

Outro, se acomoda e cai

XIX

Penso que com meu pai

Se deu essa conjuntura

Se casou muito jovem

Queria viver aventura

Depois se viu sozinho

Remoendo a amargura

XX

Nenhum de seus filhos

Queria aproximação

Não fomos humanos

Não lhes demos o perdão

Nossa mãe sofreu bastante

E essa era a razão

XXI

Um belo dia nós fomos

Surpreendidos com um fato

Nosso pai se matou

Tomou veneno de rato

E para nós foi indiferente

Era frio o nosso trato

XXII

Hoje, nesse cordel

Eu faço reflexão

Porque não insisti

Não ouvi seu coração

Quem sou eu pobre mortal

Para não dar o meu perdão?

XXIII

A verdade é que a vida inteira

Eu queria ter estado

Vivido perto dele

Tê-lo ao meu lado

Para me dar segurança

Ter me encorajado!

XXIV

Hoje sei que na Ponte

Onde faço a travessia

Ao ver rio e mar

Oceano de poesia

Também é cenário de dor

Morte como anestesia

XXV

Na contemporaneidade

Está difícil viver

Luta contra vícios

Desamor, poder

Descaso com o povo

Destinado a sofrer

X XVI

As pessoas estão distantes

Não se aproximam mais

Só fazem postagens

Nas redes sociais

Pseudo realidade

Longe dos fatos reais

XXVII

Quando os pais vão ao trabalho

Os filhos ficam sozinhos

Entregues à própria sorte

Enfrentando os espinhos

Diante das dificuldades

Perdem-se pelos caminhos

XXVIII

Faltam as autoridades

Enfrentar com licitude

Programas de governo

Que contemplem a juventude

Isso vai gerar riqueza

Só depende de atitude

XXIX

A nossa juventude

Tem garra, força e vida

Mas sem horizontes

Sente-se perdida

Precisam de uma luz

De um ponto de partida

XX

Meu querido irmão

Neste cordel eu narro

Peço para que você não pule

Na Ponte Newton Navarro

A vida não é fácil

É na fé que eu me agarro

XXXI

Sei que a indiferença é grande

Que a vida é muito dura

CREIA, DEUS EXISTE!

Em sua forma mais pura

Ele transforma vidas

Ajuda, salva e cura!

XXII

Eu sou Sírlia Lima

Poetisa potiguar

Conclamo a todos

Que puderem ajudar

A compartilhar amor

E muitas vidas salvar!

Sírlia Lima
Enviado por Sírlia Lima em 24/04/2019
Reeditado em 01/05/2019
Código do texto: T6631209
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