VÔO JJ-3054 - UMA IDA SEM VOLTA...

VÔO – JJ 3054

UMA IDA SEM VOLTA...

Literatura de Cordel

Autor: Bob Motta

N A T A L – R N

2 0 0 7

Quirido amigo leitô:

Cordelista, cum certeza,

muntas vêiz amostra in verso,

o contráro da beleza.

Êle é obrigado, irmão,

a amostrá disolação,

distruição e tristeza.

É munto amáiga, a durêza,

pezá prá lá de profundo.

A grande tragédia aéra,

intristiceu, num sigundo;

tudo o qui é de passagêro,

todo o pôvo brasilêro,

repéicute in tôdo o mundo.

O sufrimento foi fundo,

o país tá disolado.

Chora o pobre, chora o rico,

do patrão ao impregado.

Passagêro num instante,

cumissáro, cumandante,

morrêro tudíin queimado.

Êles tinha decolado,

de Porto Alegre a Congonha.

Na decolage, alegria,

a aterrissage, tristonha.

E a morte, de repente,

alí naquele ambiente,

imbaicô sem cirimonha.

O aivião, qui nem cegonha,

lá duis pampa decolô.

Avuô, tumô artura,

e prá São Paulo, aprumô.

Uma hora e meia avuando,

e o trem de pôso abaixando,

in São Paulo, êle chegô.

Mais lá num aterrissô.

Qui nem uma frexa zunindo,

inguliu a pista intêra,

derrapô e se sumindo;

o TAM, prá nossa tristêza,

entrô no prédio da imprêsa,

e alí, findô isprudindo.

São Paulo acabô uvindo,

a terríve isprosão.

Numa grande bola de fôgo,

virô-se prédio e aivião.

De passagêro, minha gente,

num teve um subrivivente,

prá nossa disolação.

Istrondo de mil truvão,

na redondeza ecuô.

O Brasí tôdo, intêríin,

in pranto, se derramô.

Puros irmão passagêro,

qui virô tudíin torrêro,

e o fôgo caibonizô.

Prá cumpricá, meu sinhô,

quem tava alí trabaiando,

cum uis zóio arregalado,

viro o aivião chegando.

Sem pudê corrê prá fora,

viro chegada sua hora,

viro a morte lhe abraçando.

Uis bombêro foi chegando,

cumeçando a trabaiá.

Danáro água e iscuma,

mode a quintura infriá.

Porém naquela agunia,

pôca gente, se sabia,

qui êles iria saivá.

De lá do úrtimo andá,

munta gente se jogô.

Quiria fugí da morte,

e o fugaré num dexô.

Dais labarêda, dais peda,

fugiu, mais morreu na queda,

quando cum o chão se chocô.

Brasí se disisperô,

parente e discunhincido.

Pura aquela gente tôda,

qui viu seu mundo perdido.

De cada um brasilêro,

cada um duis passagêro,

era um ente querido.

Lá no chão foi istindido,

um tordo mode butá,

cada côipo resgatado,

prá adispôi incaminhá;

dalí daquêle ambiente,

uis resto daquela gente,

p’ro Instituto Legá.

Mais, cadê êles infriá ?

Era impussíve, dotô.

Daquela bola de fôgo,

era inferná, o calô.

Dalí, vivo, seu minino,

só pru milagre Divino,

de Deus Pai, Nosso Sinhô.

Do aivião, tudo acabô;

do prédio da TAM, porém,

aiguns qui alí se incontrava,

se saivaro, ainda bem.

Pruquê eu lhe juro, amigo:

Dalí, daquêle castigo,

num era prá iscapa ninguém.

Eu vô inté mais além.

Quem dêsse inferno iscapô,

agradeça munto a Deus;

foi Êle quem lhe saivô.

Acredito no distino,

quem alí “se foi”, seu minino,

foi sua hora qui chegô.

O pobre do revêissô,

tá sendo prá munta gente,

o curpado disso tudo,

dêsse disastre incremente.

O gunverno num tem pressa,

butô na pobre da peça,

tôda a curpa do acidente.

Ficô craro e evidente,

qui na questão sigurança,

Congonha, in tôdos uis ponto,

transfôimô-se in giringonça.

Seu pêso, in êrro, é tão forte,

leste a oeste, sul a norte,

qui inté quebrô a balança.

Quem na aventura se lança,

de Congonha utilizá,

tá correndo sério risco,

de alí mêrmo “impacotá”.

Cum êsse caos e essa pista,

num dá, lhe juro, Ministra,

prá relaxa nem gozá.

Só dá mêrmo prá chorá,

cum isso qui se assucedeu.

A tragédia anunciada,

infilirmente ocorreu.

Prá derêita ô prá isquerda,

nais pista, se chora a perda,

dais pessoa qui morreu.

Alí disapariceu,

projetos no dirmantêlo.

Uis parente in disispêro,

chora arrancando uis cabêlo.

Êsses parente tristonho,

vê qui a viagem duis sonho,

transfôimô-se in pesadêlo.

E na tristeza do gêlo,

do oiá de quaiqué parente,

duis dono daqueles côipo,

é sufrimento, sòmente.

Aguarda sem inlusão,

pura identificação,

de seu tão querido ente.

Ao cunsiguí, finaimente,

seu ente indentificá,

cumprindo a sua missão,

retorna p’ro seu lugá.

Lacrimeja de emoção,

mode sepurtá o irmão,

e a vida cuntinuá.

Me diga, cumo será,

qui tá na ôta dimensão,

o Cumandante Rolim,

cum essa situação ?

Deve é tá munto chorôso,

bem prá lá de disgostôso,

cum êsse caos da aiviação.

Sabê qui um duis aivião,

da sua TAM tão querida,

no pôso se dirmanchô,

cum quage duzentais vida:

é um disgôsto profundo,

prá quem teve nêsse mundo,

a aiviação cumo lida.

Vendo a batáia perdida,

o cabra sofre, impotente.

A morte saiu ganhando,

nêsse causo, infilirmente.

É a farta de decença,

aliada à incumpetença,

desses nossos dirigente.

Diz agora, o Prisidente,

do arto do seu cunfôrto,

qui vai tumá providença;

mais dispôi duis pôvo morto;

qué moralizá Congonha,

dispôi da triste véigonha,

fazendo ôto aeroporto.

É o disgunvêrno sôrto,

agindo sem cirimonha.

Junto à farta de decôro,

de quem no lugá, se ponha.

É a mais pura indecença,

é farta de cunciênça,

de justiça e de véigonha.

Tem gente que ainda sonha,

qui aquilo num se passô.

Qui foi só um pesadêlo,

do quá inda num acordô.

Porém na realidade,

é triste mais é verdade,

pruquê ninguém iscapô.

Suais vida, seu dotô,

se acabaro, pode crê.

Quem perdeu um ente querido,

de agora in vante é sofrê.

Tá cum a ixistença perdida,

prumode qui suais vida,

perdeu a razão de sê.

Se acabô-se o seu vivê,

agora é só vegetá.

É só disgôsto e tristeza,

é só sofrê, só chorá.

É só pidí fôrça a Deus,

mode pruis parente seus,

suais oração, rezá.

Vô agora apresentá,

eu mêrmo a você, irmão.

Qui iscriví êsse foiête,

cum tristeza e cumoção.

No verso metrificado,

dispôi de dá meu recado,

eis a indentificação.

Roberto Coutinho da Motta,

O nome, papai iscuiêu.

Bob Motta é pseudônimo,

E cum êle, assino eu.

Rimo amostrando in meu verso,

Tudo o qui ai no universo,

O dom, foi Deus quem me deu...

Autor: Roberto Coutinho da Motta

Pseudônimo Literário: Bob Motta

Da Academia de Trovas do Rio Grande do Norte

Da União Brasileira de Trovadores-UBT-RN

Do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte

Da Comissão Norte-Riograndense de Folclore

Da União dos Cordelistas do Rio G. do Norte-UNICODERN

Da Associação Estadual dos Poetas Populares-AEPP

E-mail: bobmottapoeta@yahoo.com.br

Site: www.bobmottapoeta.com.br

Bob Motta
Enviado por Bob Motta em 05/10/2007
Código do texto: T681864
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