Causos do menino José Bento - 1

José Bento, menino bom!

Por ordem de sua mãe, Dona Severina,

Foi à feira lhe comprar um molho de coentro.

- Sim sinhora mãe Bia, já lhe trago um saco de farinha.

- Vássimbora caba safado, se não vai senti o peso do meu cajado.

Bento se riu e foi apressado

Mas do canto dos olhos viu mãe Bia sorrir: “Desgraçado!”

No meio do caminho, alegre cantando.

Assobiando um hino de um pássaro contemporâneo.

Chutava pedra, dava pinote.

Viu um calango se arrastando ao norte.

Já lá na feira disse:

- Seu Zé Pereira, minha mãe me mandou aqui lhe comprar um mói de coento. Vim correndo feito vento pra lhe agradar e lhe dá contentamento.

- Veio a banca certa menino Zé Bento. Tenho de cem, duzento e quinhento. Me aguarde um pouco por um momento e vá escolhendo o mói do seu coento.

Piqueno, médio e grande.

O tamanho do mói mãe num disse e agora?

Será milhó ir pergunta a dona Aurora?

Vou e vorto seu Zé Pereira.

Vou tão rápido feito baliadeira.

Já na barraca da velha Aurora disse:

- Como vai minha sinhora?

- Se aprochegue menino Bento, que te trazes aqui sinão o vento?!

- Sabe o que é dona Aurora, mãe pediu um mói de coento. Mas num me disse de que tamanho queria esse bendito desalento.

- Que vai fazer cumade Bia?

- Cunzinha fejão, arroz e cutia.

- Pois intonses, afilhiado Bento, leve um grande de quinheto.

- Muito agradecido madrinha Aurora, vi aqui em boa hora.

De volta a seu Zé Pereira:

- Seu Zé Pereira, vim numa pressa ligera. Quero um dos grande e num me diga bestera.

- Pois não menino, aqui ta seu troco e siga seu destino.

- Muito grato seu Zé Pereira. Vou simbora numa só carreira.

Já bem perto da bananeira, próximo à sua porteira.

Viu Mariinha, ô menina aperriadeira!

Viu-se nos olhos da moça faceira

Que lhe abriu um sorriso de donzela seresteira.

- Case cumigo minha flô, pois que te dou meu todo amô!

- Só de amor ninguém vive meu lindo Bento. Tem que ter dinheiro, ora seu jumento!

- Não se aperrei minha doce pretendente. De um tudo te darei, todo contente.

Foi a pulso levar a encomenda que sua mãe aguardava.

- Vixe Maria menino, já tô arretada. Preciso do coento sinão fasso nada.

- Não fique mãe tão aperriada. Pois que aqui estou após uma légua andada.

- Deixe de prosa, deixe de lezeira. Vá se lavar pra cumê sem lambuzera.