O ADVOGADO E SEUS DEZ FILHOS

Eu quero aqui colocar

Esse cordel arretado

Sobre uma situação

Que vivenciou o advogado

Com dez filhos e a mulher

Estando desempregado.

O pobre desse advogado

Com dez filhos pra criar

Perdendo ali aquele emprego

Foi difícil trabalhar

Ainda por cima teria

Da casa logo zarpar.

Para a gente conhecer

Vamos logo explicitar

O nome de cada filho

E eu aqui já vou colocar

Agora neste momento

Leiam o que vou falar.

Lucinha a filha mais velha

Tentava se conformar

Com toda aquela pobreza

E ia pro quarto chorar

Abraçava a sua mãe

Tentando lhe consolar.

Nesse momento o Pedrinho

O filho número três

Já estava perdendo aula

Não foi uma única vez

Não tinha sequer dinheiro

Pra comprar um pão francês.

Depois do filho Pedrinho

Nasce Carlos, o Carlinhos

De todos o mais centrado

Naqueles poucos aninhos

Era muito calado

Aquele nobre filhinho.

Após Carlinhos, chegam

Os gêmeos, Dorval e Evinha

Uma dupla do barulho

No termo brincadeirinha

Levava tanto cascudo

E ficava na salinha.

Era aquela confusão

A Fatinha não aguentava

Com a ajuda de Joãozinho

Ela muito gritava

A Dona Perla pedia

Só assim ele parava.

Logo depois nasceu a Gilda

E Luizinho em seguida

Que completava essa lista

Fechando com Margarida

São estes aqueles dez filhos

Que suportaram a vida.

Os filhos sem exceção

Teve como herói, Joãozinho

Era o mais inteligente

Criava tanto joguinho

Nessas horas de agonia

Ficava bem quietinho.

Sobre este filho mais velho

Que se chamava Joãozinho

O mesmo nome do pai

E era mesmo o diabinho

Foi ele que teve essa ideia

Dizendo pro seu paizinho.

Que ele não se incomodasse

Que mentir não é pecado

Porque tudo que ele via

Era matreiro o advogado

E era só isso fazer

Não ficar desesperado.

Seu pai muito educado

Porém, nunca mentiu

Ficou bravo com Joãozinho

Como nunca alguém viu

Explodindo só de raiva

Um ódio consumiu.

Pegou seu filho no braço

Ficaram ali se olhando

Joãozinho não aguentou

Foi logo se retirando

Perguntando pro bom pai

O que ele estava pensando.

Ele ficou ali, calado

Nenhuma frase falou

Pegou a pasta preta e cinza

Quis emprego e se mandou

O Joãozinho sem jeito

Para mãe desabafou.

Que seu pai tivesse calma

Pois tudo se consertava

Só a morte não tem cura

Na defesa até curava

Ele falava nos cantos

Sua mãe apenas olhava.

Joãozinho ali insistia

Sua mãe com atenção

Falando dos bons valores

E também de gratidão

Disse praquele seu filho

Que merecia um sermão.

A mãe já passando mal

Não quis de nada saber

Deu um puxavante na orelha

E disse : - Vai doer, vai?

E aquele filho danado

Dizia: - Nem quero ver.

Joãozinho um tanto triste

Pro pai pedia perdão

Mas, ficava ali amuado

Somente na observação

Entrava para o seu quarto

Pensando na criação.

Perla pegava João

Querendo lhe consolar

Dizendo: - Meu velho, calma

Que Deus vai nos ajudar.

O Joãozinho, meu Deus

Ele só faz reclamar.

O grandioso advogado

É tão honesto de dar dó

Não tinha se complicado

Gostava de ser melhor

Mas vivia de aluguel

A vida sempre pior.

A mulher ficava em casa

Dos dez filhos cuidando

Não pensava mais em nada

Tudo estava maltratando

Esperava seu marido

Que ia ali se lamentando.

O advogado todo dia

Pasta debaixo do braço

Sempre com o paletó

Que só lhe dava fracasso

Sua mulher engomava

Para sair todo esse amasso.

Mas, enquanto isso, esse chefe

Da família nos lamentos

Queria fazer muito

Haja tantos sofrimentos

Joãozinho fica só

Vendo olhares bem atentos.

A Dona Perla de Sá

Pede pro filho o respeito

Porque ele fazia aquilo

Se o pai tinha esse direito

Pois ele foi sempre honesto

Na praça tinha conceito.

Os nove filhos olhando

Aquela tal desgraceira

Joãozinho se chegando

E tira uma brincadeira

Falando para o seu pai

Foram direto a Teixeira.

Tudo isto sabem por quê?

Joãozinho fez a história

Pediu pra sua mãe

Pro Campo Santo da Glória

Ir visitar a vovó

Pra aliviar a memória.

Chegando no corretor

Esse filho com mistério

À casa iam alugar

Mas, era tanto impropério:

- Onde estão seus nove filhos?

O pai: - Estão no cemitério.

O corretor assustado

Pela mulher perguntou:

Joãozinho se meteu:

- Onde vovó se enterrou

E aquele pai bem calado

Com isto a casa alugou.

A nova casa alugada

Graças seu filho primeiro

Que teve a brilhante ideia

Dando esse tiro certeiro

Que mentir na precisão

Era, porém, passageiro.

O advogado se mudou

E tudo foi melhorando

Todos voltaram pro estudo

E empregado foi ficando

Joãozinho dar conselho

Naquela casa morando.

É uma casa tão grande

Para o nobre bacharel

Que fica com mais dinheiro

Quando ele paga o aluguel

Eu findo aqui esse meu drama

Pra alegrar o meu cordel.

FIM

João Pessoa-PB, 18 de abril de 2020.

BENTO JUNIOR
Enviado por BENTO JUNIOR em 04/05/2020
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