CAMINHO INVERSO!
Silva Filho
(Reapresentação)
 
 
 
Sou produto sem cheiro nem cor
[É assim que se diz no Nordeste]
Com alcunha de Cabra da Peste
Uma história aqui vou compor.
Meu avô sempre foi lavrador
O meu pai quis sossego provar
Barnabé só pra se aposentar
Mas a vida me deu ultimato
Galopando atrás dum contrato
Na metrópole passei a sonhar.
 
Uma infância feliz, eu confesso
Num cenário de matas e serras
Sem notícia alguma de guerras
Sem o crime fazendo congresso.
Vou em frente, agora lhes peço
Para mais outros fatos narrar
Não há verbo como “assaltar”
Estilingue é o melhor artefato
Galopando atrás dum contrato
Na metrópole passei a sonhar.
 
Nunca vi, no Sertão, um falsário
Peculato lá não tem espaço
No comércio não há embaraço
Ninguém fala em ser empresário.
Quem trabalha, quer o necessário
U’a choupana lhe dá bem-estar
Incentivos só vão se sobrar
Confusão nunca sai no retrato
Galopando atrás dum contrato
Na metrópole passei a sonhar.
 
Tentação da cidade não resta
E o lazer faz brotar diversão
Bom forró, o xaxado, baião
Completando com uma seresta.
A viola não falta na festa
Até quando o sol vai raiar
Por comida ninguém vai parar
A paçoca se faz melhor prato
Galopando atrás dum contrato
Na metrópole passei a sonhar.
 
Bem melhor que lidar com o crime
É viver onde jaz a bonança
Com respeito ao velho e criança
Convivência que se faz sublime.
Contemplar a paisagem redime
Minha terra, por que fui deixar?
Se o emprego não vai compensar
Que se danem a conta e extrato
Galopando depois do distrato
Ao Sertão vou depressa voltar.