A MODELO VIOLADA POR UM FILHINHO DE PAPAI !

Criada pra ser princesa

Desde o dia em que nasceu

Num bercinho cor de rosa

A menina assim cresceu

Cuidando de suas bonecas

Amada pelos pais seus.

Sonhava com uma coroa

E um príncipe encantado

Pois todo conto de fadas

Tem este enredo narrado

Gerando sonhos românticos

E nunca um conturbado.

Adolesceu bem feliz

Bem vestida bem tratada

Junto com suas amigas

Era a mais admirada

Com muita desenvoltura

Sempre a mais destacada.

Foi nas redes virtuais

Que descobriu seu talento

Pra modelo e influencer

E a partir desse momento

Expôs a sua beleza

Pra ter reconhecimento.

Trabalhando numa festa

Como a divulgadora

Numa praia para ricos

Era uma trabalhadora

Que caiu na armadilha

Da colega traidora.

Lhe ofereceu um gim

Que estava batizado

A apresentou ao homem

Cara mal intencionado

Que a levou a um camarim

Onde agiu como tarado.

A modelo resguardara

O sexo pr’um amor

Foi violada ultrajada

E sentindo muita dor

Perdeu logo os sentidos

De nada mais se lembrou.

Ao perceber o crime

Foi para a delegacia

Denunciou o sujeito

Fez B.O. como devia

E anexou um vídeo

Que provava a covardia.

Esse vídeo foi tirado

Da sua rede social

Alegando que um processo

Sobre o objeto tal

O impedia de ficar

Disponível pra geral.

O filhinho de papai

Um coroa quarentão

Se achou com o direito

De magoar o coração

De uma jovem sonhadora

Que esperava uma paixão.

Por não ter capacidade

De seduzir com amor

Usou artifícios torpes

Com que a moça enganou

E ainda negou tudo

Na justiça contestou.

O caso durou dois anos

Nos tribunais de justiça

Que deveria ser cega

Mas só sofre de preguiça

Pra defender os humildes

E pros ricos é omissa.

Numa audiência forjada

Pelos meios virtuais

O juiz e o promotor

Representantes legais

Com o advogado histérico

Agiram como imorais.

Humilharam a modelo

Depreciando sua vida

Alegando que era suja

E até prostituída

Vivia aplicando golpes

Com a virgindade perdida.

Toda mulher tem valor

Sem ter que dá jeito em tudo

Quando mostra o corpo nu

Não é pra dar pro calçudo

O erotismo existe

E pode ter conteúdo.

Sem defesa oficial

Só o choro lhe restou

Sendo mais achincalhada

Nem juiz nem promotor

Impediram a humilhação

Concordaram com o agressor.

Numa inversão de valores

Vítima virou algoz

O tarado estuprador

Foi liberado após

O veredicto final

Que escandalizou a nós.

Estupro é violência

Ninguém faz sem intenção

Forçar o ato sexual

Com alguém sem permissão

É dolo má fé é crime

Passível de punição.

‘Tá na lei é só cumprir

E não vir com artimanhas

De vilanias machistas

Que acham isso façanha

Que merece elogios

Para quem tudo barganha.

O filhinho de papai

Foi criado pra ser macho

Um príncipe um garanhão

De caráter muito baixo

E que usa a justiça

Como se fosse um capacho.

Mas esse canalha é

Filhinho da mãe também

Que tinha a obrigação

De educá-lo muito bem

Pra respeitar as mulheres

Sem tratá-las com desdém.

A bondade feminina

É igual à sua maldade

Adiche me ensinou

A lutar pela igualdade

Que mulher pode exercer

Sua feminilidade.

E assim como nem toda

Mulher é uma feminista

Digo que nem todo homem

É misógino sexista

O matriarcado existe

Em família antimachista.

Foi muito estarrecedor

Assistir a audiência

Precisamos exigir

Da justiça mais decência

Revogando o resultado

Que negou as evidências.

Jotacê Freitas

@cordelinsta

Oficinadecordel.blogspot.com

Salvador – Bahia

Novembro - 2020