LEMBRANÇAS DE ISABEL
Cincoenta e dois anos se passaram
Desde que a linda Isabel se casou
Foi um fato que muito me arrasou
Eu um rapaz novo e com planos
Vi passando todos esses anos
Meus passos então fraquejaram
Eu tinha intenção nessa menina
Mas outro chegou primeiro
Armando seu bote certeiro
Mesmo assim tinha esperança
Sem raiva e sem querer vingança
De conquistar aquela bambina
Do seu olhar fiquei submisso
Ela aceitou com ele o namoro
Isso prá mim foi um desaforo
Perdi-a para esse desgramado
Quando dei fé estava gamado
Eles firmaram compromisso
Naquele tempo foi complicado
Superar uma perda terrível
Me senti triste, foi horrível
Mas enfim eles se uniram
Suas vidas então definiram
Com o casamento fiquei chocado
Sumiram então da minha vista
Não tive notícias mais de Isabel
Azedou com certeza o meu mel
Aceitei a perda, segui minha vida
De outra forma ela foi construída
Perdi minha pose de ser egoísta
Contudo enxerguei um novo rumo
Casei, me dei bem, como resumo
A vida não é o que esperamos
Em tudo erramos e acertamos
Se você pensa o contrário desista
O destino porém me ensinou
Que o futuro a Deus pertence
Um dia qualquer um se convence
E cincoenta e dois anos depois
Foi incrível, encontrei os dois
E vejam no que isso terminou
Estava Isabel em um hospital
Onde tinha eu uma consulta
Vejam no que a vida resulta
Ela numa ala estava internada
O olhar perdido, estava calada
Aqui mesmo na minha capital
Eu a reconheci com certeza
Depois consultei seu prontuário
Ao lado o marido no seu calvário
Eu me emocionei profundamente
Todo aquele passado veio a mente
Porém o ambiente era de tristeza
Convalescia ela de grave doença
No seu cérebro a razão apagada
Pela inconsciência foi abraçada
O esposo já velho ali chorava
Percebi então que se lastimava
E isso bem ali na sua presença
Dar muitas voltas esse mundo
Também não sei qual o motivo
Do fato de seu marido estar cativo
Da situação de sua esposa doente
Sendo uma pessoa quase demente
Vivendo em um transe profundo