"JOSÉ MARINHO E A NOIVA ARRANJADA".

Rapaz eu tive um amigo,

Por nome José Marinho,

O sujeito era certinho,

Mas bobo que mariposa,

Já bem velho e solteirão,

Mas doido pra se casar,

Pois o povo foi procurar,

Pra tal homem a esposa.

Um certo dia o encontrei,

Já depois de algum tempo,

Passeando num jumento,

A sua melhor montaria,

Todo nos panos passados,

E um chapéu de panamá,

Viu-me e veio me contar,

Pois a muito não nos via.

Desceu daquele jumento,

Veio me abraçar sorrindo,

Disse ele eu estou vindo,

Pra fazer-lhe uma visita,

Pedi que ele se sentasse,

Nos pomos a conversar,

Logo passou-me a contar,

De sua vida as desditas.

Dizia ele que essa vida,

É uma coisa engraçada,

E não nos poupa em nada,

Do que temos que passar,

De sonhos ou realidades,

Que venha nos acontecer,

Você nem queira saber,

O que tenho pra contar.

Disse-me só vou lhe dizer,

Por você ser meu amigo,

O que aconteceu comigo,

É bem mais que sofrimento,

Nas regiões de boqueirão,

Onde eu estava morando,

Ali também procurando,

Encontrar um casamento.

Meu amigo certa noite,

Já um tanto perturbado,

Comi um fígado guisado,

Logo após fui me deitar,

Como estava cansado,

E no sono logo agarrei,

Por quantas horas não sei,

Foi mesmo de arrepiar.

Todos os dias me falavam,

Que eu devia me casar,

E que eles iam arrumar,

Uma mulher para mim,

Que já estavam cansados,

De me ver sem compromisso,

E impressionado com isso,

Assim pus-me a sonhar.

Pois dessa forma começou,

Aqui na pequena Paraíba,

E onde passei toda a vida,

Sem compromisso e solteiro,

Mas como disse-lhe agora,

Ali todos os meus amigos,

Foram enfim a ser comigo,

Um santo casamenteiro.

De inicio eu não dei ideia,

Pra todas essas besteiras,

Eu disse isso é brincadeira,

A história de me casar,

Sem dar ligança aceitei,

Foi ai que o trem fedeu,

A tal mulher que apareceu,

Foi mesmo de arrepiar.

Ela foi se aproximando,

Se mostrando carinhosa,

A sujeitinha era manhosa,

Que me deixou sem ação,

Parecendo uma modelo,

Daquelas de passarelas,

Mas apeste era banguela,

Magra igual um cancão.

E assim os meus amigos,

Mostraram-me a morena,

A macambúzia me acena,

E pude de fato entender,

Mostrou-se toda educada,

Com aquele olhar pidão,

Logo pensei essa não,

Deu vontade de correr.

Aquelas pernas compridas,

Maior que um dia de fome,

Quando me disse seu nome,

Quase que me deu desmaio,

Não achei muito comum,

Com o nome de Herminela,

E as pernas de manivela,

Pra suportar deu trabalho.

Um andar desengonçado,

Parecendo o Mazzarope,

Com uma venta de capote,

Escura que nem carvão,

Sorria com a mão na boca,

Gritei meu Deus que é isso,

Onde acharam esse estrupício,

Isso é uma assombração.

Que de pronto me pediu,

Pra ser minha namorada,

Sem saber que a infusada,

Era um matruz com limão,

A peste me deu um beijo,

Fiquei louco e apavorado,

Quase morri sufocado,

Em sentir o seu bafão.

Fiquei enfim atordoado,

Com o gosto de salmoura,

Foi como comer cebola,

Crua com o bucho vazio,

Mas ali fiquei calado,

Mesmo me sentindo mal,

Pensei deve ser normal,

Confesso tive arrepios.

Essa tal de namorada,

Pensa cara que tragédia,

Comia feito uma égua,

Mulher gulosa do cão,

Eu fui cair na besteira,

De leva-la pra lanchar,

Com suco de maracujá,

Comeu lá dez amburgão.

Eu quase passei apuro,

Nessa noite abençoada,

Pois essa tal namorada,

Esvaziou-me a carteira,

Pediu-me bala e chiclete,

Tudo o que via ela queria,

Credo em cruz Ave Maria,

Fez-me sair na carreira.

Ó sujeita desarrumada,

Parecendo um varapau,

Que nem vara de varal,

Eram as suas canelas,

As unhas dessa miséria,

Pareciam com punhal,

Olha! Eu nunca vi igual,

É de quebrar a cancela.

Tinha os olhos graúdos,

Igualzinho os de coruja,

Inda não vi mulher suja,

Nunca vi tanta sujeira,

Assim numa pessoa só,

Com um quilo de cerôto,

Grudado em seu pescoço,

Imaginei que lasqueira.

Um cabelo bem comprido,

Parecendo bem tratado,

Porem estava enganado,

Ali shampoo nunca viu,

Despontado e todo duro,

Como sendo repicado,

O bicho era empencado,

E lêndeas pra lá de mil.

Pude ver que seus braços,

Fininhos e bem compridos,

Estavam sujos encardidos,

De quem nunca viu sabão,

Todos cheios de pulseiras,

Das legítimas bijuterias,

Era mesmo o que se via,

Nos braços e suas mãos.

Como estava meio escuro,

Não deu bem de se notar,

Mas deu pra desconfiar,

Aquela gente a gargalhar,

E eu ali muito inocente,

Já doido pra ir embora,

Eu falei nossa senhora,

Fui obrigado a gritar.

Foi então que nessa hora,

Tal morena me agarrou,

Quase ali me sufocou,

Lutando pra me soltar,

Senti meu mundo sumir,

E o restante eu não sei,

Mas nessa hora acordei,

Gritando pra me acabar.

Então dei graças a Deus,

Que nada era verdadeiro,

Mesmo sendo pesadelo,

Fiquei impressionado,

Com esse sonho maluco,

Sem saber por que sonhei,

Eu só sei que me lasquei,

Acordei todo borrado.

Com isso eu deixei pra lá,

Essa historia de casamento,

Montei-me nesse jumento,

Resolvi pegar a estrada,

Por todas minhas andanças,

Naquele nordeste a fora,

De Boqueirão vim embora,

Hoje vivo sem parada.

Foi assim que aconteceu,

Fiquei muito impressionado,

Com esse episódio engraçado,

Esse me deixou meio esperto,

Sendo pra mim ampla lição,

Pois sonho assim nunca mais,

Que passei sufoco de mais,

Mas se acontecer fico quieto.

Meu amigo José Marinho,

Depois de muita conversa,

Onde nós dois rimos a beça,

Com esse sonho engraçado,

Rolava-mos de dar risadas,

Nisso montou-se e partiu,

Por ali ninguém mais o viu,

Depois do sonho contado.

Cosme B Araujo.

30/01/2022.

CBPOESIAS
Enviado por CBPOESIAS em 30/01/2022
Reeditado em 30/01/2022
Código do texto: T7441278
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