A grilagem no Piauí

A nossa sociedade

Sofre com o latifúndio

O alimento vem de fora

Parece até um gerúndio

O camponês que produz

É preso ao parvifúndio

Causa empobrecimento

A tal grilagem histórica

Desde a modernização

Só existe uma retórica

A terra vai para o rico

Em expansão meteórica

A prioridade da terra

Desde a colonização

Foi dada pra "os de fora"

Numa inferiorização

E obtendo vantagem

Trocam propina por chão

Nas Fazendas Nacionais

Deu-se terra ao coronel

E o Estado de fato

Nunca cumpriu seu papel

De controlar a ganância

Do especulador cruel

Nas chapadas dos gerais

A terra foi alienada

Pelo alienado Alberto,

De visão equivocada

Entregou tudo ao grileiro

E ninguém produziu nada

Mas vi taxá-lo esquerda

Em campanha eleitoral

Contra o povo da Arena

De onde veio esse tal

Só o povo não entendeu

Que era mau contra mau

Da Arena ao PDS

Foi uma gestão de exclusão

Titularam com o INTERPI

Tudo o que foi de babão

Mas sempre ignoraram

Os pretos lá do sertão

Na sequência o Mão Santa

Com o diabo na mente

Titulou terra sem lastro

Inescrupulosamente

Deu ao posseiro a fraude

E saiu impunimente

Retirou o tal INTERPI

De seu prédio sem razão

E o acervo fundiário

Sem pena foi ao porão

Tudo que é mapa de terra

Se extraviou no lixão

Cartório nesse ambiente

Passou longe de critério

Registram até expansão

De terra de cemitério

Vai de palmo para légua

Tudo que é despautério.

E que dizer de juízes

Que faz a lei movediça?

Atende o amigo grileiro

Ignorando a justiça

Posse e direito de fato

Se faz botando "puliça"

Surge em dois mil e três

Um profeta salvador

Desde o primeiro governo

Foi um bom enrolador

E na tal questão de terras

Só do agro é a favor

O INTERPI vem bolando

Passando de mão em mão

Até a corja da Arena

Voltou à instituição

Na prioridade de sempre

Deu a grilagem caução

De dois mil e três pra cá

A orientação mudou

Se descobre um grilinho

O governo dá cobertor

E o jurídico do INTERPI

Advoga a seu favor

A defesa da produção

É a retórica bradada

Ou compra de boa fé

Da nossa terra roubada

Como se na questão terra

Ética fosse invocada

No combate a grilagem

Corrupção é rotina

E escritório agrarista

De uma ponta de esquina

Compra servidor barato

Por uma mixa propina

No governo do PT

Falar em lei é gerúndio

A cada ano é uma regra

Pra titular minifúndio

Mas é foco de verdade

Regularizar latifúndio

A grilagem por aqui

Na história é o normal

Expulsaram o indígena

Para implantar o curral

Era gado indo a frente

Da carta sesmarial

O Latifúndio e a pobreza

Fez um acordo sem trégua

O grileiro abarca a serra

Que só de mede na légua

E a terra pra o feijão

Mede até com uma régua

Hoje não é diferente

Da tal colonização

A fraude vira registro

Para especulação

Mercado imobiliário

Agradece a expansão

Grilagem para alguns

É coisa lá do cerrado

Mas o caso por aqui

É muito mais complicado

Ela domina o espaço

Do Estado desprezado

Tem fraude no sudoeste

Nas chapadas do cerrado

Nas nascentes do Punaré

No parque mal implantado

Mas não para por aí

Se alastra por todo lado

Segue ao lado da Bahia

No sudeste do Estado

Vai seguindo as divisas

Ao Pernambuco alinhado

Não escapa uma chapada

É mau generalizado.

Há cantos nessas chapadas

Que nem se sabe o que são

É Piauí? Pernambuco?

Ou Ceará meu irmão?

Há terra de todo jeito

Registrado em trocação

Na chapada Ibiapaba

Que começam no sertão

Pio IX e Pimenteiras

E sobem rumo a Assunção

Tem tanta terra grilada

Verdadeira assombração

Mas não para por aí

Se acha em todo canto

No litoral ter grilagem

Não é razão para espanto

Lá nas terras da União

Especular tem um manto

Se pensou que Teresina

Se livrou da maldição

Chegue na Santa Tereza

Patrimônio da União

Veja riqueza nas chácaras

Lá quem domina é barão

Dessa prática criminosa

Se tem o diagnóstico

Se faltam boas medidas

E até bom prognóstico

Em relação ao seu povo

O governante é agnóstico

Se conhece com clareza

Os mecanismos de fraude

Se conhece os lugares

Onde tem grilos ao "balde"

Falta mesmo nesse estado

É quem as ações respalde

Cova Donga, em Pio IX

Fraude na minha terrinha

Em Uruçuí, nas Ribeiras

Consolo, Prata e Pratinha

Chapada Grande, de Tanque

Regeneração e vizinha

Em Bom Jesus, o Quilombo

Laranjeiras, em Currais

Serra Vermelha, em Leal

Mundo Novo, nos Gerais

Se tiver gerais no nome

Já são fraudes viscerais

De Bom Jesus a Bonfim

São Raimundo, do Parque

Se tem confusão na serra

Vem de grileiro o ataque

Em Caracol, o cartório

Registra até almanaque

Em Queimada de Sessé

Não há registro de terra

Nas Fazendas Estaduais

Para posseiro é guerra

E titulação de quilombo

Isso nunca se encerra

O governo prometeu

Acabar esse lamento

Introduzindo na lei

O georreferenciamento

Mas o sistema Sigef

Acata bem o aumento

A terra que era imóvel

Move atrás de reserva

Para abarcar o baixão

Fazendo a terra serva

Em favor do grilo verde

Como regra de minerva

A grilagem é, portanto

Uma mancha na história

Que desde o colonizador

Foi encoberta com glória

E agora o deus mercado

Enaltece a tal escória

Ainda sonho com o dia

Ver posseiro titulado

E os povos dos baixões

Sem ser mais incomodado

Por grileiro ou veneno

Os demônios do cerrado

Tenho cá a esperança

De ver isso resolvido

Que o povo ampare a luta

Do camponês oprimido

Pra fazer desse Estado

Chão melhor dividido.