Quando a chuva é razão pro meu poema, eu me sinto mais filho do Sertão
Quando vejo o céu de nuvem escura
Quando vejo um rebãe de tanajura
E de Formiga correndo pela casa...
Quando o sol já não queima feito brasa
Quando vejo o cupim criando asa
E voando nessa imensidão
Quando ouço o barulho do trovão
Quando vou pescar em piracema
Quando a chuva é razão pro meu poema
Eu me sinto mais filho do Sertão
Quando ouço a rã roer o cano
Quando o ano é bom de invernada
Quando vejo a lama na estrada
E o capim, bem verdim, cobrindo o chão
É a resposta de Deus, a oração
Do pobre Nordestino sofredor
Cai a chuva, lavando sua dor.
Dando um ponto final pro seu dilema
Defendendo a grandeza desse chão
Sem querer nem saber qual seja o tema.
Pois se a chuva é razão pro meu poema,
Eu me sinto mais filho do Sertão
Quando as marrecas fazem procissão
Quando os sapos cantam na lagoa
Quando as gias mudam de região
E as babujas nascendo lá no chão
Quando a voz do matuto se entoa
Quando vejo o verdinho e a garoa
Quando vejo a Serra esbranquear
Não tenho mais do que reclamar.
Acaba toda nossa pena
E agradeço ajoelhado no chão
Pois é o fim do nosso problema
Quando a chuva é razão pro meu poema
Eu me sinto mais filho do Sertão