O VALOR DE UMA DONA DE CASA

Chegando em casa cansado

Após tanto trabalhar

Na soleira do jardim

Marido deu de estranhar

Os filhos fora das camas

Ainda vestindo pijamas

Sem companhia, a brincar.

Começou logo a pensar

Que as coisas não iam bem

Crianças sujas de terra

Sem a ajuda de ninguém,

- E a cadela Zuria

Que sempre lhe recebia,

Porque hoje ela não vem?

Observou mais além

Uma embalagem vazia

De comida entregue em casa

Como fazem todo dia,

A porta do carro aberta,

Da esposa, sempre alerta...

«Que será que acontecia?»

De pronto já pensaria:

«Cadela havia sumido.»

A porta da casa aberta

«Será que entrou bandido?»

A televisão ligada

Uma barulheira danada

Chega doer nos ouvidos.

Nada faria sentido

Tanta desarrumação

Bagunça por toda parte

Roupas jogadas no chão

O tapete enrolado

E até um copo quebrado

Tinha em cima do balcão.

Veio a interrogação:

«Que será que acontecia?»

Pratos e talheres sujos

Amontoados na pia

Cascas de ovo e maçã

E até café da manhã

Ainda na mesa havia.

Algo estranho acontecia...

Subiu correndo a escada

Tropeçando nas bonecas

Pelos degraus espalhadas

A suspeita natural:

«Minha mulher passou mal,

Será que está desmaiada?»

Roupa suja amontoada,

Lhe bateu um desespero

Filete d’água escorrendo

Pela porta do banheiro,

No chão, toalha ensopada

Saboneteira quebrada

Subindo aquele espumeiro.

Ainda dentro do banheiro

Aberta a pasta de dente

Até tinha sido usada

Mas de forma diferente

Papel higiênico na pia

E no sanitário havia

Algo mais surpreendente.

Outra coisa diferente,

A comida de cachorro

Joga pela cozinha,

Areia junta como um morro

Brinquedos e mais brinquedos

Espalhados de dar medo,

Coisa pra pedir socorro!

O marido deu esporro

Vendo a casa diferente

Tudo de pernas pro ar

A começar do batente

Entrando de porta a dentro

Não havia um aposento

Com aparência decente.

Dirigiu-se finalmente

Para o quarto do casal

Já tendo toda certeza

Que a mulher passou mal

Pois tudo era perfeito

E estava daquele jeito...

Coisa sobrenatural!

E no quarto do casal.

Estiradinha na cama

Estava a sua mulher

Ainda usando pijama

Lendo uma boa revista

Dessas que fala de artista,

Coisas do mundo da fama.

Confuso ela reclama,

Reclama não, perguntou:

«O que aconteceu aqui?

Por que não se levantou?

Você está tão diferente...

Por acaso, estás doente?

Por que não telefonou?»

Ela sorriu e falou:

«Tenha calma, meu benzinho!

Eu estou bem de saúde,

Vem me fazer um carinho!

Não vá se preocupar

E pare de reclamar,

Sente aqui no nosso ninho!»

«Tenha calma meu benzinho...

Como posso me acalmar?

As crianças lá por fora

Sem ninguém pra lhes cuidar,

Eu chego em casa, cansado,

Vejo a mulher nesse estado...

O que tem para almoçar?»

«Não para de reclamar...

Pra que tanto desespero?

Todo dia você chega,

Não vem nem me dar um cheiro

E a pergunta sempre traz:

O que é que você faz

Nesta casa o dia inteiro?

Pois agora, companheiro,

Está sua resposta dada.

Você, que sempre encontrou

Sua casa bem arrumada,

Se conforme, meu amigo,

Tome isso por castigo,

Porque hoje eu não fiz nada!»

Manaus, 22 de Outubro de 2022

Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 17/11/2022
Código do texto: T7652185
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