O AZAR DE DONA MARIA

Acordou bem cedinho

Seguiu pela estrada

Montada em sua burrica

Saiu em disparada

Apertou o pé no estribo

Ou chegaria atrasada.

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Precisava vender na feira

Quiabo, pimentão e jiló

Tinha uma boa freguesia

A velha e bondosa Filó

Sempre recebia dela

Café e pão-de-ló.

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Por aquilo ela não esperava

Era um dia de azaração

A burrinha se assustou

Ela se esbarrou no chão

Levou o maior tombo

Foi a maior decepção.

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Dona Maria apavorada

Chorava e dizia: Eu mereço

Foi sacola pra todo lado

Esse azar eu desconheço

Logo a mercadoria

De quem tenho tanto apreço.

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A bicicleta quebrou o freio

Maria nem percebeu

Quando desceu a ladeira

Na curva se perdeu

E caiu na choradeira

O tornozelo torceu.

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A dor era tão forte

Ficou ali sentada

No asfalto quente

Na beira da estrada

Ninguém aparecia

Estava desesperada.

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Um quarto de hora depois

Para sua felicidade

Apareceu um homem

Vindo lá da cidade

Montado em um jumento

Que parecia uma raridade.

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O bicho era tão velho

Todo ele enfeitado

Um ramalhete de flores

No rabo era amarrado

O homem nem se fala

Era fantasma do passado.

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Maria não teve escolha

Começou a implorar

Meu pé está quebrado

Não consigo levantar

Me leve até o hospital

Pra essa dor aliviar.

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O homem não disse nada

Pegou Maria pelo braço

Colocou na sela do jumento

E Enlaçou num abraço

Pediu que se segurasse

No cabresto deu um laço.

Autoria-Irá Rodrigues