O COMILÃO ( CORDEL)

abril 16, 2016

Valdir Rangel

Quando eu comia muito

Vivia sempre adoentado

A barriga era muito grande

O bucho era quebrado

Não tinha coragem pra nada

Só gostava de viver deitado

A minha gula era grande

O meu olho bem maior

Gostava de pão e manteiga

Caldo de cana e mocotó

Adorava comer gordura

De rabada era melhor

Não enchia a minha pança

Comia feito um bicho solto

Todo alimento que eu ingeria

Para mim era bem pouco

Se tivesse aquela graxa

Comia ainda, com mais gosto

No café da manhã

Eu comia sempre assim

Cuscuz e macaxeira

Costela de boi e javali

Ovos mexidos e cuscuz

Batata, inhame e cupim

O meu peso estava dobrado

A minha barriga só crescia

A doença silenciosa

a minha vida invadia

E feito um grande tolo

Não ligava ou percebia

Quando eu estava na cozinha

Era aquela diversão

Parecia Ana Braga

No programa da televisão

Preparando as vitaminas

De abacate e mamão

Realmente eu comia

De modo bem cavalar

Não era porque eu queria

Eu não sabia me dominar

E sempre ficava com raiva

Se alguém vinha observar

Não aceitava os conselhos

Comia de noite e de dia

Picanha, arroz, buchada

Feijoada quente ou fria

Era assim que eu almoçava

Lá no bar de dona Guia

Vivia somente para comer

Parecia uma grande loucura

Não gostava de caminhar

Nem tão pouco de verdura

Não percebia que tava cavando

O buraco da sepultura

Minha gente, a comida,

Exerce grande atração

Deixa o comensal bem alegre

Na hora da refeição

Que assim se excede

Porque lhe falta educação

Desde o tempo de menino

Eu era um bom comedor

Na hora do almoço

Parecia um compressor

Devorava o que eu via

Até carne de robô

Não parava de comer

A minha pança não enchia

Comia com os olhos

A minha barriga crescia

A feira de uma semana

Eu devorava em um dia

De fato minha gente

Eu era bom de garfo

Comia na tigela

Na bandeja e no prato

Só me levantava da mesa

Quando se esvaziava o tacho

Se tivesse um aniversário

Eu ficava muito animado

Sempre dava um jeitinho

Para ser logo convidado

E me deliciava com gulodice

Na bandeja dos salgados

Se fosse num almoço

Ai que eu tava feito

Dobrava o meu apetite

Comia fava e rejeito

Só deixava uma vaguinha

Pro coração bater no peito

Um dia meu amigo

Começou o desmantelo

As pernas sem ter forças

Indo muito ao banheiro

As gorduras acumuladas

Me obstruindo por inteiro

Procurei então um médico

Que me deu a receita

Faça reeducação alimentar

Que o seu corpo se ajeita

Diminua a sua barriga

Procure deixá-la seca

No começo foi difícil

Não dormia bem direito

Só pensava no presunto

E na carne de rejeito

Queria fazer o tratamento

Comendo do mesmo jeito

Foi ai que a nutricionista

Me deu uma explicação

Só depende do senhor

Sair desta situação

Altere o seu cardápio

Coma verdura e mamão

A saúde depende também

Da sua boa educação

Esqueça a gulodice

Preste bem atenção

Se alimente para viver

Controle a sua alimentação

Aqui fica o conselho

De quem viveu esse drama

Só deguste o necessário

Se controle no final de semana

Modere na ingestão dos alimentos

Nas gorduras e na brama