CRIANCICE

 

Silva Filho

 

 

 

Um dia já fui criança

Desfrutando a tenra idade

Da vida, seguindo a dança

Na mais plena liberdade

Inocência que não cansa

Nem pede maturidade.

 

Brincando sem reverência

De tudo provando um pouco

Cercado de efervescência

Neste mundo muito louco

Sem qualquer maledicência

Para os perigos, fui mouco.

 

Tal qual algum marinheiro

Em sua primeira viagem

Segui assim sem roteiro

Nas trilhas da vadiagem

Um relógio sem ponteiro

E um turista sem bagagem.

 

Cabelos soltos ao vento

Sem precisar de espelho

Sem discernir o momento

De ouvir o bom conselho

Sem buscar entendimento

Como faz qualquer fedelho.

 

Mas o tempo vai passando

Sem que se possa conter

O que se vai transformando

Sempre em cada amanhecer

Criança que vai sonhando

Sonha também em crescer.

 

Chega o tempo da Escola

Chegam também as lições

Muito já brinquei de bola

Sem mais sérias intenções

Chega o tempo da parola

Pra guardar recordações.

 

Com as letras do alfabeto

Sílabas se vão formando

Mundo novo descoberto

No saber me aprofundando

Pelo mundo, bem desperto

Fui da infância distando.

 

Foram felizes momentos

Que não perco da memória

Mas chegaram outros tempos

Refazendo a minha estória

Passando por segmentos

Vi no tempo u’a divisória.