O Raizeiro

O raizeiro no nordeste

Está para a medicina

Assim como o querosene

Estava para a lamparina

Antes das hidrelétricas

Fazerem chegar ao pobre

O clarão dos candeeiros

Viajados em pavios de cobre.

Elas, debalde e frágeis

Como a pétala à invernia,

Esmoreceram à invenção

Dos cavalos de energia.

Mas o raizeiro não, ele,

Apesar da efígie exótica,

Resistiu aos dons da ciência

E à artilharia antibiótica,

Pois a ciência que o move

Não vem de tubos de ensaios,

Mas do conhecimento perene

Repassados dos ancestrais.

É a sabedoria popular,

Ciência autêntica e pura

Embrulhada na astúcia

De um sábio sem leitura,

Que discorre a sua bula

Com tamanha presunção

Que o doente se cura

Antes de sorver a solução.

Se, pelo mistério segregado

Na infusão das garrafadas,

A crença não cura, restaura

Pelas propriedades anunciadas,

Tal a universalidade

Dos efeitos do composto,

Que uma única garrafada

Serve a qualquer encosto,

Da disenteria ao câncer

Da insônia ao mal de amor.

‘inda que a dor seja feitiço,

O raizeiro vira benzedor.

Não há doença incurável,

Quer seja física ou da alma,

Que resista ao milagre do chá,

Que, se não cura, acalma.

Porquanto até a medicina

Científica ou convencional

Busca curar-se na sabedoria

Da medicina natural.

Portanto, não se desdenha

Do poder que a planta cogita,

Da prosa de vender de raízes

Ou da ciência que nela tramita.

Evany, 26/10/2023