O NINHO DO SABIÁ

Já que impensadamente
Os homens queimam florestas
E embora racionais
Fazem coisa que não presta
Súbito um passarinho
Sem ter onde pernoitar
Numa ousadia sem par
Fez na igreja o seu ninho

O pássaro a que me refiro
Foi um frágil sabiá
Que por não ter outra opção
Na paróquia foi morar
Sem tempo para pensar
E não sendo religioso
Com seu jeito caviloso
Lá tentou se acomodar

Sem noção do que fazia
Nem do lugar onde estava
Não sabendo o que é respeito
Nada disso lhe importava
Escolheu para o seu ninho
Entre todas as imagens
Todo cheio de coragem
A da Virgem e seu Filhinho

Com ampla capacidade
E intelecto instintivo
Mediu tudo e avaliou
Se mostrando muito vivo
Então pode concluir
Que o lugar era ideal
Para a construção legal
Nas condições do seu QI

Pipilando em derredor
Todo lépido ele voou
Amealhando fiapos
Galhos secos e sem cor
Pedaços que encontrou
O material costurando
Apenas o bico usando
Sem diploma de doutor

Ele ia e voltava
Entrava rápido e saía
E na ânsia de construir
Só aquela imagem via
Com os trapos encontrados
Tudo ele foi juntando
Para o ninho ir formando
Um lar para enamorados

Na sua atividade
Por ser ele pequenino
Ninguém lhe dava atenção
Talvez coisa do destino
Sua labuta era tanta
Para tão grande projeto
De fazer um ninho perto
Da cabeça de uma santa

Assim, a cada graveto
E ramos secos que juntava
Seu lugar para viver
Aparecia e se formava
Fruto de sua insistência
Em trabalhar sem parar
Descer, subir, procurar,
Demonstrando paciência

E o ninho foi nascendo
Dentro daquela igreja
Nem padre nem sacristão
Ninguém viu, ora veja!
Que o pequeno passarinho
Já pensando no futuro
Procurando um amor puro
Preparava o seu ninho

Eu ainda não contei
Onde esse fato se deu
Mas agora vou dizer
A cidade onde ocorreu
Foi lá no lindo torrão
Do sul do meu Brasil
Que explode em cor anil
E tem um grande coração

Foi mesmo na capital,
A Porto Alegre bonita
Cidade pampa gaúcho
Onde a gauchada habita
Numa pequena igrejinha
Do bairro de nome assim
Chamado Bairro Bomfim
- Igreja Santa Teresinha -

E o sabiá se deu bem
Quando foi descoberto
A paróquia decidiu
Que ele deu o passo certo
Pois mexer não adianta
O bicho fique sossegado
Lá no seu ninho deitado
Perto da cabeça da santa

Foi na internet onde vi
Esse fato diferente
A merecer citação
A foto acima não mente
O sabiá vive e canta
Cheio de felicidade
Pois é uma raridade
Morar ao lado da santa

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 26/12/2007
Reeditado em 22/01/2012
Código do texto: T792546
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