MUNDO DOIDÃO - Parte III e continua...

Como esquecer de citar
A violência reinante
O povo inteiro com medo
De topar com assaltante
Que mata sem piedade
- Às vezes é menor de idade -
Qualquer um do semelhante?

Tantas armas engendradas
Para qualquer homem matar
Penso que mataram o amor
Só uns poucos querem amar
São raros os que se amam
Mundo afora todos clamam
São tantos querendo odiar

A natureza tem avisado
Que já não agüenta mais
O fim de suas florestas
A extinção de animais
As queimadas odientas
Tão desumanas e nojentas
Devastando os matagais

Porém o homem, impensado,
Deu um nó na natureza
Pôs suspensório em gato
Desencantou a beleza
Enterrou a curva dos rios
Perdeu todos os seus brios
E já de nada tem certeza

Então, seu olhar se anuviou
E tudo ficou enviesado
O que era branco ficou preto
Só vemos tudo trocado
Somos fantoches cantando
E como palhaços bailando
Num palco despedaçado

Vemos onça escrevendo
Cobra engolindo flores
Sapos comendo com garfo
Rã falando de amores
Já vi tanta coisa estranha
Até homens comendo aranha
Neste mundo de horrores

Sentado na beira da lua
Quando estava conversando
Com uma mulher muito linda
Vi certa vaca voando
Montada por um carneiro
Que ia alegre e faceiro
Bebendo café e cantando

A vaca planava altaneira
As patas da frente por asas
O focinho era turbina
E defecava sobre as casas
Vinte metros tinha o rabo
Grande era o descalabro
De estrelas virando brasas

Já o sabido do carneiro
Bebia café e jogava
As sobras pela cidade
Feito chuva ele molhava,
Com uma cara de safado
E bezerro desmamado,
Tudo por onde passava

Mas aquilo não foi nada
Comparado ao que senti
Ao perceber que um cego
Me assaltou e eu nem vi
E lá se foi ele correndo
Como se estivesse me vendo
Mas eu sem ver quase caí

Ainda tentei seguir o cego
Em meio ao trânsito louco
Mas ele saracoteava
E bufava feito um porco
De tanto atrás dele correr
Fiquei sem poder nem ver
Não ceguei por muito pouco

Foi muito pior quando ouvi
O galo lendo uma carta
A raposa arrotando doce
Numa mesa muito farta
E um pato cantando rouco
Num quá quá quá muito louco
Para uma platéia parca

Já o bode apaixonou-se
Pela rosa do vizinho
Ficou doido feito gente
Desiludido e sozinho
Embora tentasse ganhar,
De modo a nunca largar,
A mulher do seu Julhinho

De cabeça para baixo
Gira o mundo tresloucado
Jacaré virou mocinha
Pelo lobo apaixonado
Que só anda de trancinha
Balançando a cabecinha
Com um peixe enrabichado

Aquele vaqueiro doido
Laçou a lua com a cobra
Deu um grito no dragão
Agarrado em sua dobra
e de lá fugiu correndo
Vendo a velha comendo
Um prato de gororoba

Ta tudo uma doideira só
Entre o cabrito e o gambá
Eles já nem se falam mais
Querem o leite derramar
Ambos detestam ouvir
Como se gritando a parir
O filho do outro cantar

A aranha carrega um trem
Debaixo de um braço só
E uma formiga sozinha
Faz centenas de pão-de-ló
Mas nenhuma se compara
Aos beijos da arara
Num elefante de paletó

E como era antigamente
Alguém pode se lembrar?
Foi há tanto tempo atrás
Já passou, não vai voltar,
Mas é bom rever um pouco
Antes que eu suba num toco
Até que é bom recordar

Via-se obrigado a casar
Quem à virgem deflorava
Não importando sequer
Se o casal não se amava
Lavar a honra era o fino
Isso eu vi desde menino
Só a força é que mandava
Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 28/12/2007
Reeditado em 30/08/2008
Código do texto: T794750
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