A Mítica Saga de Martim Soares Moreno: Um dos Portugueses que Fundaram o Brasil
Prefácio
Este cordel tem como finalidade estreitar os laços entre portugueses e brasileiros, aos quais infelizmente tem sido através do tempo formando hostilidades, primeiro por parte de historiadores irresponsáveis e mentirosos que não faziam outra coisa se não falar contos de horror de um Portugal imaginário saqueador de riquezas, genocida e causa primeira de todas as mazelas sociais do Brasil.
O povo lusitano, dono de uma coragem que beira o suicida, lutou para expandir suas povoações com ajuda de povo locais e foram atacados por outros povos europeus e estes por sua vez aliados de outros indígenas. Além dessa nuance que em muito escapa em muitos dos livros paradidáticos das escolas brasileiras, ainda somamos o fato de professores escolares serem incentivados a falarem mal do povo português, como foi muito bem apontado pelos historiadores TIto Lívio Ferreira e Manoel Rodrigues Ferreira ainda no século passado.
Aos mais sedentos por fatos e menos apreciadores das eloquências da liberdade poética eu digo que o texto foi elaborado de transcrições das cartas do próprio Martim Soares Moreno à Corte, assim possivelmente tornando o que escrevi muito mais amparado na realidade que o clássico Iracema de José de Alencar. Os desejosos por histórias fantásticas inspiradas em fatos reais, espero conseguir agradar, ainda sabendo que fantasia hoje é um gênero muito explorado e minha obra pode ser considerada apenas mais uma entre tantas outras.
1
O destino deu-lhe seu aceno
Para que ele fosse além mar.
O Martim Soares Moreno,
Veio um soldado a desbravar.
2
Veio com Diogo Botelho
E logo chego em Pernambuco
Desbravou com Pero Coelho
Num calor de deixar maluco.
3
Se no mar a sorte era incerta,
Na terra não era diferente.
Se ao herói a chance é aberta
Ele vai ao meio inclemente.
4
Aprender a língua e costumes
Para que virem aliados.
Tempos do império em altos cumes,
E céus noturnos estrelados.
5
Partiu rumo ao Jaguaribe
Brancos e índios em missão.
Medo em nenhum momento inibe
A vontade da expedição.
6
A ideia era ir a Ibiapaba
Idos a foz do Camocim
Viram um sertão que não acaba
Com outros querendo seu fim.
7
Indígenas mais os franceses,
Armados com arco e mosquete.
Vindos todos esses reveses
Separar homem do pivete.
8
Após o primeiro confronto
Acamparam no pé da serra
Sem água nem lenha no ponto,
Mas Deus se apresenta na terra.
9
Um cavalo foi de alimento,
Veio saciar nossa gente,
E acharam água no momento,
Foi um milagre do onipotente.
10
Povo nisso se acreditava
Toda aquela gente guerreira
Que a Nosso Senhor exaltava
Na ajuda em hora derradeira.
11
A força de tão forte embate
Trouxe cada cerca tomada.
Francos vencidos no combate
E ida ao Maranhão acertada.
12
Tal ponto começou a fadiga,
Houve até voz de oposição.
Do cansaço nasceu uma intriga,
Desistiam do Maranhão.
13
Pero Coelho ouve os reclames,
Fica Simão Nunes Correia.
A Paraíba retornares,
Já parecia luta alheia.
14
Serem mortais causou o embaraço.
Não importa quão grande a coragem,
Pois todo mortal tem cansaço,
Sinal da pausa da passagem.
15
Pero vai a sua esposa e filhos,
Esforço de povoação.
Colocar tudo nos bons trilhos,
Expandir a sua nação.
16
Distância temporal dos fatos,
Falta de documentações.
Mesmo oficiais ou relatos
Sobre as indígenas nações,
17
Deixam uma grande lacuna
Na qual pode ser preenchida
Numa folclórica fortuna.
Preencher a parte perdida...
18
Nomes como o líder Jacaúna
São ditos, mas não aprofundados.
Lutas entre si e contra a fauna
Um dia por nós recontados.
19
Sem o mito do Rousseau,
Coisa de remoto passado,
Criar no meio bureau
O que virá a ser narrado.
20
Olhando para o vasto céu…
Seja pela noite ou no dia…
Nossa história traz como réu
Quem ela jamais deveria.
21
Feliz o povo lusitano,
Tal fundou várias nações.
Encarou e desbravou o oceano,
No mundo fez grandes ações.
22
Portugal fundais o Brasil,
Sem a gratidão merecida.
Culpa de política vil
Criando visão distorcida.
23
Se existe uma maior vileza
Que odiar sua fundação
Brasil escolar com certeza
Faz com um tom de solução...
24
Querer passado à francesa,
Ou outra nacionalidade
Que povoação portuguesa
É fuga da realidade.
25
Esta obra é fundamental,
Lembra a fundação lusitana
Com a honra e pompa original,
Longe da escola que te engana.
26
Pero Coelho demorou,
Precisava de mais ajuda.
João Soromenho mandou...
Erro que logo o desiluda.
27
Soromenho prende locais,
Tal intuito era os vender.
Foi preso por oficiais,
isso não podia fazer.
28
A situação de penúria,
Pero no forte São Lourenço,
Uns fugir no calor em fúria,
Pero e os seus em momento tenso.
29
O solução era retirar,
A amargura de uma derrota.
Dona Tomásia a lamentar
Perdeu um filho naquela rota.
30
Voltavam com aspecto frágil,
Até o vento os derrubava.
Precisavam voltar mais ágil
Enquanto o sol os castigava.
31
Tal expedição foi um fracasso,
Mas ainda existia esperança!
Martim daria o novo passo,
Aos índios fez aliança.
32
Jacaúna o considerou um filho,
Era uma aliança guerreira
Que deu novo fôlego e brilho
A recém pátria brasileira.
33
Todos os capitães do norte,
Passam a ver a luz à vista.
A aliança com líder forte
Dava a eles chance de conquista.
34
Martim recebeu grande ordem,
Ser fundador do Ceará.
A aliança serviu bem,
No futuro foi ao Pará.
35
Criada tal capitania
Chegou por mar uma invasão.
Nau flamenga que então invadia,
Rápida veio a reação.
36
O inimigo era numeroso,
Tínhamos o fator surpresa.
Por meio mais do que ardiloso
Foram holandeses à presa.
37
O Martim tira suas vestes
E então tingiu a própria pele
Para se parecer com estes
Índios que foram juntos a ele.
38
Entraram dentro do navio,
Foi uma chacina assustadora.
Vidas ceifadas como fio,
Nossa nação sai vencedora.
39
Um navio holandês que vinha,
Debandou em grande retirada.
Sem sofrer perda do que tinha,
Sem nova batalha travada.
40
A guerra premia a ousadia,
Não se deve deixar ter medo.
Se guiar por tal covardia
É apenas cair bem mais cedo.
41
Guerra exige selvajaria,
Clama poderosa coragem.
Sem luta, o que o humano faria?
Seria escravo da paisagem.
42
Logo tudo é passageiro,
Mas não a inconformidade humana.
Do camponês ao guerreiro
Uma centelha na alma emana.
43
Seja desbravando oceanos
Ou em batalha contra outros povos,
A natureza dos humanos
É igual nos velhos e novos.
44
Diferença dos animais
Essa tal inconformidade
É por sermos racionais,
Mas menores que divindade.
45
Sempre ter de lutar por tudo
E ser no cosmos mero nada.
O seu ego é um grande escudo
Onde uma espada foi cravada.
46
Cacique mandou um mensageiro
Pedia a própria conversão.
Mais importante que estrangeiro
Foi designar um capelão.
47
Batizaram João Algodão,
Mandou fazer forte e capela.
Se há católico em legião
É por conversão como aquela.
48
A conversão de Jacaúna
Foi um momento sublime e belo
Da Igreja da qual se faz una,
Me é uma honra descrevê-lo.
49
O esforço da batalha e fé
Uniu toda aquela gente.
Se hoje a Igreja fica de pé
É por heroísmo eloquente.
50
A luta pelo Maranhão,
Tal vinha como imperiosa
Conquistar da tal vastidão
De uma inimiga poderosa.
51
Todo um embate contra a França
Por controle do Maranhão
Foi feita com tal confiança
Nossa gente fez a expansão.
52
A ida em dia de São Miguel,
Príncipe da armada celeste.
Preparação a povo cruel
Que se espalhava como peste.
53
Exército de mil soldados,
Os quais tivemos de enfrentar.
Mais uma outra vez consolados
Pela fé durante o lutar.
54
Mão invisível de nosso Deus,
Mostrou muita provação,
Mas jamais abandonou os seus,
Conquistamos o Maranhão!
55
A vontade foi mais além,
Até o inóspito Pará!
Neste momento de vai e vem
Que então os fez chegar até lá!
56
Martim foi muito crucial
Para derrotar os franceses,
Parou a França Equinocial,
Não menos aos holandeses.
57
Em uma de suas batalhas
Deformaram a sua mão.
Caiu em uma das armadilhas
O que o garantiu prisão.
58
Após mais negociação,
Foi finalmente libertado,
Imparável pela nação
Tal e qual tanto tinha amado.
59
Foram longas suas jornadas
Pelas tais sempre ele lutou.
No dia delas terminadas
E na memória ele ficou.
60
Descanse em paz nobre guerreiro,
Seja Brasil ou Portugal.
Mesmo no nosso mundo inteiro
Jamais haverá outro igual.