O Martírio do Padre Francisco Pinto: Um Apostolado Português em Terras Brasileiras

Prefácio

A palavra “martírio” vem do grego “martyria”, é no meu entender o ponto mais alto da fé cristã, sobretudo a católica, onde a pessoa deixa-se sofrer uma violência, até mesmo a morte por amor a Jesus Cristo. O Padre Francisco Pinto foi até as consequências últimas. “Apostolado” significa “aquele que foi mandado em missão” e a dele foi uma das mais belas, pregar o evangelho às nações indígenas pagãs e reuni-las sob a fé Católica e a Portugal.

É lugar comum a velha narrativa de que os brasileiros são descendentes dos degredados, que esta terra não tem um passado do qual se orgulhar, não possui mitos fundadores, afirmo que não apenas possui como estão em pé de igualdade com os de qualquer país. Este cordel tem como intuito ir na contramão dessas afirmativas vigentes, claro que muito longe de querer afirmar-se como uma verdade indiscutível, visa a busca de uma conscientização e se possível um debate saudável dos paradigmas atuais, assim como também foi o cordel anterior a este, “A Mítica Saga de Martim Soares Moreno”.

Aos que buscam as fontes históricas pelas quais tirei a narrativa desta obra, foi de um livro chamado “História do Ceará: volume 1” de R. Batista Aragão e este por sua vez revela na apresentação do romance histórico “Bravos da Missão” que suas fontes foram os historiadores Serafim Leite, Luís Figueira, Ivo d’Devrè e Claud d’Abville. Por fim, eu finalizo este prefácio com o dizer atribuído a Arlindo Veiga dos Santos “O Brasil não começou em 1500, seu início foi no Milagre de Ourique”.

1

Aquele Deus que na cruz sangra

Deu ao lusitano a missão,

A qual um homem santo de Angra

Foi com extrema retidão.

2

Foi catequizar num recinto

Cheio de cobras e escorpiões.

Era o padre Francisco Pinto

Indo às indígenas regiões.

3

Tudo tem começo e tem fim,

O começo foi pela queda

Causada por um serafim

Que então caiu na labareda.

4

Vem como serpente do mal

E induziu a fruto profano.

Vem Jesus como luz e sal

À redimir o ser humano.

5

Para que Deus nos edifique

Deu ao porvir luso grandeza

Pelo do Milagre de Ourique,

Dar fé às terras de estranheza.

6

E dentre toda aquela gente,

Padre Francisco ouve o chamado

E a ele não foste indiferente.

Um homem de Deus enviado.

7

Foi amigo do Padre Figueira

Encontra uma devoção igual

Que dentro da hora derradeira

Viu seu martírio total.

8

Foram espalhar o evangelho

Na escolta de índios fiéis.

Levar a fé do Mundo Velho

Sobre o rei de todos os reis.

9

Enfrentaram difícil passagem,

Caranguejeira, fincão, cobra,

Terra dura pela folhagem,

Mas o homem de fé não se dobra.

10

Este tão inóspito cenário

Era o oposto ao prometido.

Terras boas para um agrário

Não tal lugar tão corrompido.

11

Então um dos índios foi picado,

Seu destino foi triste morte,

Mas havia o que ser cruzado,

Na tristeza resta ser forte.

12

Sem uma terra acolhedora,

ou animais exóticos, ou ouro.

Uma visão desoladora

Ir a sofrer no próprio couro.

13

Tudo era mais a provação

Até achar acolhedores

Que deram alimentação,

Foram de milho provedores.

14

Os padres estavam tão fracos,

Que os índios locais deram redes

É nos momentos mais opacos

É que derruba tais paredes.

15

Muros das grandes ilusões,

Que desfeitos saem vaidades.

Em meio de tais dimensões

Viram em pagãos caridades.

16

Em meio de um mundo cruel

Deus dá um sinal de esperança,

Onde até em amargo fel

Vemos a sagrada aliança.

17

Até no momento fatal

Onde nos é entregue a cruz,

É dada a força crucial,

Resistir o mal que seduz.

18

Vinha a última provação

Estava chegando mais perto.

Padre Francisco em devoção

Sabia o que era o rumo certo.

19

Todas as dores corporais

Não são páreo à força da alma.

O homem de fé anseia mais

E aguarda o destino com calma.

20

Onde tudo resta perdido

O verdadeiro homem de fé,

Não se deixa dar por vencido

Mesmo que ele não fique em pé.

21

E chega uma tribo inimiga

Que trucida Padre Francisco.

Mão corsária francesa a instiga,

Piratas com medo de risco.

22

Padre Luís Figueira volta

Leva seu relato do fato.

Restante dos índios a escolta

Sobrou a ele falar do contato.

23

Seu testemunho do martírio,

Sangue batizou o Ceará.

Caso que parece delírio,

Algo pelas terras de cá.

24

Está escrito no destino,

Mas é aceito em liberdade.

Parece um louco desatino,

Mas é essa a cristã verdade.

25

Abençoado Padre Santo,

Intercede o povo no céu.

Ele acoberta no seu manto

O inocente que vira réu.

João de Fortaleza
Enviado por João de Fortaleza em 16/03/2024
Código do texto: T8020829
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