Pizza de viola

Maranhão.

Era lá que estava o violeiro, em pleno sábado à noite, em um barzinho onde serviam pizza no sistema rodízio.

E, entre uma ou outra fatia, a viola se manifestava:

Êta povo que dá duro

Pra defender seu trocado

E ter o sustento seguro.

Toca o gado nos pastos...

Rasga a terra no arado...

Mas tem um grupo mais vivo,

Que usa lançar os gastos

No cartão corporativo.

Um dos garçons logo entrou no clima e lhe respondeu:

“Troco uma estrofe bacana

Por uma fatia de toscana”

- “Na hora”, respondeu o violeiro.

E também tem quem viaje

Pro sul, pra ver os pingüins.

Aí CPI não reage!

Não há qualquer empecilho,

Mesmo que vá pros confins.

Mas cá pra nós, eu pergunto:

Por que a mulher e o filho

Pra lá tiveram que ir junto?

O povo, é claro, não demora pra se animar. E o garçom aproveita a deixa, e responde, enquanto serve as mesas.

“Isso é coisa bem esquisita,

Vai aliche? Vai marguerita?

- “Vai, não... Já foi”!

Foi a Cuba, a Caiena,

A Guarulhos, Argentina...

Viaja tanto que dá pena

Se fosse pra ir de jipe

Não passava da esquina

Esse homem tão arguto

Chega hoje a Sergipe

Pra inaugurar viaduto.

- “Fala do Sarney”.

- “Deixa o homem quieto que ele pediu licença pra acabar de escrever um livro. A licença eu até entendo, mas precisava do livro”?

Aí, como sempre acontece, logo se formaram dois partidos. O garçom, muito esperto logo contornou a situação.

“Deixa pra lá esse assunto

Quem vai três queijos... presunto...

Falando contra a violência

Eu vi motivo de riso

Na fala da presidência.

Disse à platéia bem cheia,

Em discurso de improviso:

Se porrada solução fosse

Bandido ao sair da cadeia

Era homem santo e doce.

- “Esse entende!” disseram em meio às gargalhadas.

- “Não entendi...” exclamou uma loura acompanhada de um garotão todo musculoso que logo respondeu:

- “Tem gente que quando abre a boca, chove besteira”.

Ficou difícil descobrir a quem ele estava se referindo.

“Olha aqui a de lombinho

Quem quer mais um pedacinho?”

As chuvas causam problema

Sempre nos mesmos locais.

Novo filme, velho tema.

E o povo assiste novela...

Dança o Créu e coisas mais.

Oswaldo Cruz, gente fina,

Já deu fim à febre amarela.

E hoje até falta vacina.

“Ta quente? Ta amarela?

Quem sabe é de mussarela?”

Mas tão mandando até pro Paraguai! Fala aí do que está se passando no resto do mundo.

No plano internacional

O noticiário se inflama.

Em todo telejornal

O que se houve falar

E de Hillary e Obama.

Na Europa, manchete da hora:

A Sérvia não quer aceitar

Que fique Kosovo de fora.

Foi uma gargalhada só. A turma demorou pra para de rir. Ainda mais quando o garçom emendou.

“Quem vai querer calabresa?

Tem ovo na portuguesa!”

Em visita a uma feira,

O presidente francês

Acabou fazendo besteira.

Ao se sentir provocado,

Ora imaginem vocês,

Em frente à televisão,

Não se fez de rogado

E xingou o cidadão.

Xingou e não se desculpou! Se fosse aqui iam dizer que era coisa de terceiro mundo.

“Tem atum, tem pepperoni.

Se preferir tem calzoni”

Com essa eu já vou embora

Senão penduro a despesa

Que a barriga tá de fora

E o hotel não é por perto.

A vocês das outras mesas

Deixo aqui os meus respeitos.

Se gostaram, tudo certo;

Se não, perdoem o meu jeito.

Se todos gostaram, não sei. Mas vi mais de uma pessoa se levantar para vir cumprimentar o violeiro, que demorou pra conseguir sair do bar.

Quando enfim se viu na rua, voltou-se para dar uma última olhada naquele ambiente tão agradável. Não pode deixar de rir. O néon do letreiro do bar estava com defeito, e só algumas partes ficavam acesas, formando a seguinte mensagem: “CPI sempre acaba em pizza”. Pensou alto: “dessa eu nem quero provar”.

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A imagem correspondente pode ser vista no "Mural" ou em um dos sites abaixo:

http://sergioserra.multiply.com/journal/item/159?mark_read=sergioserra:journal:159

http://www.globoonliners.com.br/icox.php?mdl=pagina&op=listar&usuario=2554&post=17695

Sérgio Serra
Enviado por Sérgio Serra em 28/02/2008
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