TIROTEIO NO CIRCO
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Eu vou contar uma história
Que de fato aconteceu...
Quem contava era o meu pai,
Que trazia na memória
Esse fato pitoresco,
Que sempre o manteve fresco,
E jamais o esqueceu.
Foi no tempo da zagaia,
Quando havia pistoleiros
E a lei era a cartucheira
Que punha fim na gandaia...
E acerto das diferenças
Nascidas das desavenças
Se dava entre justiceiros.
Quando tudo parecia
Corriqueiro e enfadonho,
Chegou ao rincão um circo
Pra acabar com a nostalgia...
Criançada se agitou...
O povo se entusiasmou!
Parecia mais um sonho.
No domingo deu-se a estréia...
O circo estava elegante,
Pra lá foi toda a cidade
Que compôs logo a platéia.
Tinha leão, trapezista,
Palhaço, equilibrista,
Faquir e é claro, o elefante!
Quando menos se esperava
Um tiro cortou o ar...
O povo muito assustado
Com esse fato não contava.
E logo o trem ficou feio,
Transformou-se em tiroteio
Anarquizando o lugar.
Uma confusão danada:
As velhas gritavam forte,
A criançada corria,
Gente dando cabeçada!
Quando alguém alto gritou:
É Afrozino, o Justiceiro!
E se prolongou o salseiro,
Todos fugiam da morte.
Corria o povo, os artistas,
Uns entravam na Igreja,
Outros fugiam pro mato,
Alguns se perdiam de vista...
E o pau, sem pena, comia
Entre os bandos, a agonia,
Não tinha fim a peleja.
Teve um tal de Desidério
Que no meio dos apuros
Teve uma idéia esquisita:
Se abrigar no cemitério!...
E pra lá levou uma turma,
Perto da hora noturna,
Pra se esconderem seguros.
Ficaram lá de butuca
Até que acalmasse a sanha.
E a noite foi chegando,
Quando enfim cessou a luta.
De repente, atrás de um túmulo,
Veja só se não é o cúmulo!
Sussurrou uma voz estranha:
E a voz disse: “Psiu!
Será que acabou a briga?”
E o grupo se apavorou
Diante do que surgiu...
Desceram que nem uns loucos
Derrubando cercas, tocos
Era só dor de barriga.
Lá em baixo, reunidos
Sentaram-se na sarjeta...
Que nem vara eles tremiam
Diante dos ocorridos...
“Viram só que bicho feio?...
Arrepiado, vermelho!
Eu acho que era o capeta!”
Sem saberem onde ir,
E pra celeuma ter fim
Se reuniram em oração
Pra ajuda do céu pedir...
Nisto o palhaço chegou,
E logo já perguntou:
Por que correram de mim?
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