(Imagem: Adoração dos Magos - Fra Angelico)
(Música: Ave Maria - Gonoud)

Natal: vida, amor e sonhos
 
Quando criança, ouvi uma história mais ou menos assim:

Num afastado povoado vivia uma senhora muito pobre e em companhia da amada filha. O Natal marcou alegremente a sua vida com o nascimento da pequena menina que recebeu o nome de Natalina. Por outro lado, no mesmo dia de Natal, quando a filha completou quatro anos, o seu querido marido morreu de forma súbita e inesperada. A pobre viúva, apesar do infortúnio, dizia: “o meu marido foi, mas, deixou-me o seu precioso fruto, a nossa filha, e através dela, nosso amor se perpetuará”.

A morte prematura do pai impregnou o coração de Natalina de uma profunda tristeza e revolta. Embora pequena, Natalina chorava, lamentava e não se conformava com a situação e com a realidade da vida.

A viúva, apesar do trabalho árduo e das dificuldades, aproveitava as noites, enquanto Natalina dormia, para confeccionar, com os retalhos de suas roupas, três bonecas de pano para presentear a filha no Natal e no seu aniversário.  

Quando completou nove anos, ao receber as três bonecas, Natalina desabafou com a mãe: “por que tenho que esperar um ano para ganhar três bonecas pobres”.  E a mãe perguntou: “Por que você fala que as bonecas são pobres”? A filha respondeu: “nós somos pobres e as bonecas usam roupas pobres iguais as nossas”. Pacientemente a mãe contra argumentou: “a pior pobreza não é a material, sim, a de espírito e a falta de amor; esperar um ano para ganhar o presente de aniversário e de Natal é ter a oportunidade de alimentar um sonho”. A filha ouvia atentamente com os olhos marejados e a mãe continuou: “A boneca mais robusta representa a vida, a mais clara, essa quase transparente, o amor e essa bem colorida, os sonhos; você possui esses três elementos e deveria se alegrar com eles”.

Recordando essa história, passei a refletir sobre o Natal e a última parte do diálogo me chamou atenção: a vida, o amor e os sonhos. O nascimento de Jesus, embora simbólico, é a vida que renova. Na história acima, a vida da criança que nasce contrasta com a morte do pai. A vida se renova com o eterno ciclo de nascimento e morte, além do mais, o temor da morte valoriza a vida. Jesus nasceu e morreu para renascer no coração de cada pessoa. Jesus no Natal representa a vida e a vida é a mais perfeita manifestação da natureza1.

O segundo aspecto: cultivar o amor. De acordo com a tradição cristã, Jesus deu a vida em amor à humanidade. O amor é o amálgama que solidifica qualquer relacionamento ou obra humana. Quando o amor é grande o relacionamento ou obra persistirá ao tempo e a morte. Na história acima citada, a mãe, apesar das dificuldades, não deixou de dedicar o seu amor à filha.

O terceiro aspecto: cultivar os sonhos. Os sonhos são as molas propulsoras do individuo e da humanidade. Sonhar não é errado, acreditar nos sonhos não é errado, lutar pelos sonhos não é errado, o errado é não sonhar2Sonhar em SER é exercer a nobreza de espírito, sonhar apenas em TER é satisfazer o famigerado egoísmo.

O Natal é a celebração da vida em todos os seus aspectos e com a manifestação da vida em plenitude, podemos exercer o mais belo de todos os sentimentos humanos: o amor, e amando, sonhar.  


Notas: Frases do livro O Caminho de Davi, 1-página 361; 2- página 379. 
 





Roberto Pelegrino
Enviado por Roberto Pelegrino em 19/12/2008
Reeditado em 19/12/2008
Código do texto: T1343374