A Pequena Morte

Andando pelas vias das quais conhecia tão bem, ele parou o carro na frente da casa que lhe era mais familiar, e o desligou.

Pensou em abrir a sua porta, pensou em buzinar, mas sabia que não era mais bem-vindo ali. Sabia que iria apenas causar mais problema.

Na frente da casa, as luzes de natal se trocavam entre vermelhas e azuis, e ele a observava lentamente, sentindo que a cada troca de cor a situação piorava.

Sabia que não existia solução.

Sabia que era tarde demais para assumir que ainda doía.

A luz da casa transformava lentamente o interior do carro em vermelho, e sem perceber, ele começara a socar o volante incessantemente esperando causar algum dano. Queria arrancá-lo dali, queria destruir o painel junto com teu punho. E a cada soco, o próximo se tornava mais fraco, sua mão oscilava em dor, se tornando cada vez mais dormente aos impactos.

E quando chegou ao seu limite, segurou o volante novamente, e moveu as mãos lentamente para a parte superior dele enquanto tentava conter o choro. E abaixou a cabeça, encostou a testa na parte aonde era a buzina. E por alguns momentos, gritou, com toda a sua força remanescente, toda a sua dor fora.

Houve um momento de silêncio.

- Isso faz doer menos? - Perguntou a garota sentada no banco ao lado.

- Não. - Respondeu ele, de forma seca, fazendo um leve suspiro e continuando - Não tem como você entender, você não sente, nem existe.

- Hm. - Concordou ela - Se você diz...

Assim ela deixou cair uma lágrima, no exato momento que começara a chover. Ela a secou rapidamente, apoiou-se no ombro dele e lhe deu um leve beijo na cabeça.

E lhe sussurrou no ouvido.

- Eu ainda lhe amo.

- Eu sei disto Sarah. - respondeu depois de um longo tempo, mas quando olhou para o lado, ela não estava mais lá.

Então ele ligou novamente o carro, enquanto que a luz mudava lentamente para azul.

Nícolas Lúcio
Enviado por Nícolas Lúcio em 25/12/2014
Reeditado em 30/01/2016
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