Nosso Cotidiano Chato ou Dias de Tédio

Nosso Cotidiano Chato ou Dias de Tédio

Vocês já repararam o tédio que é o cotidiano? Hoje, por exemplo, levantei, escovei os dentes, tomei café, escrevi, vi tv, dei comida para o cachorrinho. Enjoei. No entanto, há dias que gosto do cotidiano tedioso mesmo. Hoje não, hoje acordei com inércia quando tudo te chama para a vida ,o dia está lindo,mas queres ficar parada,sem fazer nada e resolvi não fazer nada. Fui relaxada e me senti completamente compreendida por um poeta português em um livro que uma amiga me alcançou e de onde selecionei um poema que , segundo ela, todos acham mórbido.

Adorei e, pelo contrario, achei engraçado e extremamente verdadeiro para o meu dia de hoje, de cotidiano chato. Já sei,por exemplo, que quando o sol vier me dar sua ultima olhada ,seu boa noite antes de se esconder na escuridão eu vou pensar naquele rápido instante, no homem dos meus sonhos,o qual também sei não vai aparecer à noite. É tarde e sei o que vai se passar. Pois até em pensar no homem dos sonhos hoje estou enjoada. Enchi dele,que nunca aparece e vive em minha fantasia e imaginação! Melhor mesmo é este poeta rebelde português pouco conhecido, mas que creio ter o nível de F. Pessoa e de Drummond. Deito na minha rede rasgada pela chuva aqui em meu porão, rodeada pelas gravuras de Renoir, Toulouse Lautrec, Van Gogh,Picasso,mais alguns quadros meus, boto a musica baixinho, me desligo do ambiente, fico serena e leio. A propósito vocês já repararam como é difícil ler? Ler mesmo! Como se precisa de tranquilidade interna e serenidade para poder ler? Somos nós,brasileiros, famosos por não ler, a começar pelos manuais de rádio, tv, ou qualquer material elétrico, que dirá livros. Eu sempre li.

A rede balança, o Joca,meu cachorro, dorme e eu mergulho inteira em um poema fora de série.

Saco Cheio

Viver sempre também cansa!

O sol é sempre o mesmo e o céu azul

Ora é azul, nitidamente azul,

Ora é cinzento, negro, quase verde...

Mas nunca tem a cor inesperada.

O mundo não se modifica.

As árvores dão flores

Folhas, frutos e passaros

Como máquinas verdes.

As paisagens também não se transformam.

Não cai neve vermelha,

Não há flores que voam,

A lua não tem olhos

E ninguém vai pintar olhos à lua.

Tudo é igual, mecânico e exato.-

Ainda por cima os homens são os homens.

Soluçam, bebem, riem e digerem

Sem imaginação.

E há bairros miseráveis, sempre os mesmos,

Discursos de Mussolini,

Guerras, orgulhos em transe,

Automóveis de corrida...

E obrigam me a viver até a Morte!

(poeta desconhecido)

E foi assim,através de um poema,meio humorístico,mas que traduz todo o tédio de uma vida que hoje não trouxe mudanças ,que superei minha inércia e o fiz,fazendo algo bemsimples,cozinhando,afinal ninguém pinta dentes na lua e eu tenho de viver sabendo que vou morrer ,e mais, sou obrigada a viver até a morte!

Suzana Heemann

Suzana da Cunha Heemann
Enviado por Suzana da Cunha Heemann em 22/05/2008
Reeditado em 28/06/2008
Código do texto: T1000107
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