15 Minutos

- Lanchonete Soledad, 15 minutos de parada!

Acorda assustado com o motorista gritando na porta da frente do ônibus. Limpou os olhos e, ainda cambaleando, desceu do carro. Sonolento e com fome dirigiu-se primeiro ao banheiro. Jogar uma aguinha no rosto, dar aquela mijadinha o ajudariam a despertar.

Enquanto se lavava, lembrou que não havia prestado atenção na plataforma que estava seu ônibus e nem no número do carro no qual viajava. “E agora, José?” – pensou e tremeu. Alguns segundos de reflexão lhe apontaram a resposta. “É claro! Tenho uma ótima memória fotográfica” – gabou-se – “me lembro perfeitamente do rosto do motorista! Que maravilha!”. Estava salvo.

Sai do banheiro e procura urgentemente pelo motorista. Rapidinho o avista sentado no espaço exclusivo para motoristas que havia por lá. Sentindo-se mais seguro, vai ao balcão para comer algo, posiciona-se num lugar estratégico, “de frente para o alvo”. Agora estava mais tranqüilo, afinal era só aguardar o motorista levantar-se, segui-lo até o ônibus, embarcar e... “bingo!”

- Me faz um bauru e um suco de uva, por favor. – pediu à atendente.

O lanche fico pronto rapidinho, como é de praxe nas boas paradas de ônibus. Estava tudo tão gostoso que fez nosso compadre se esquecer da vida e do tempo. Involuntariamente olhou para a área de motoristas e não mais viu o condutor. “Meu-Deus-do-Céu!” - Desesperou-se. Mirou um pouco ao lado e lá estava seu salvador, que tinha ido apenas pegar um pouco de café. Respira aliviado. Quando olha para o relógio percebe que já é hora de partir e o motorista continua envolvidíssimo na conversa com bonitona do guichê de informações e não demonstra qualquer sinal de preocupação em voltar para o ônibus. Resolve que seria interessante pagar a conta e ficar preparado para embarcar, “mas desta vez vou ficar atendo!” – pensou.

Olha para o relógio, já se passaram 7 minutos do horário previsto para a partida e o motorista ainda está “garrado na cunversa” com a moça. 12 minutos de atraso já era demais, mesmo na ‘terra do atrasadinho’ que é esse Brasil. Foi até o motorista e o abordou:

- Oi, com licença, o senhor é o motorista do ônibus da linha Curitiba-Umuarama, não é?

- Pois sou sim, e...

- Ah que bom! Mas o senhor não acha que já passou demais do horário combinado de saída?

- Bom, é como eu ia te dizendo: Sou o motorista, e é nessa parada onde encerro meu turno e passo a direção para um outro motorista que segue viagem. E se o senhor é passageiro desse carro, sinto informar, mas ele partiu a uns 15 minutos atrás.