Meu Amigo Brasileiro

Certo dia eu estava sentado no banco da praça, quando de repente sentou-se ao meu lado um homem, e então começamos a dialogar.

Ele se chamava Brasileiro, era humilde, simpático a parecia estar bem informado, em função disso passamos a conversar sobre vários assuntos. Mas em vários momentos da nossa troca de idéias, observei que o indivíduo empregava sempre o termo “sub”. Em se tratando de vínculo empregatício, era subempregado, no âmbito da nutrição era subnutrido, de acordo com a ordem mundial, pertencia à classe subdesenvolvida.

Num primeiro momento, cheguei a achá-lo um pouco soberbo não entendia o porque dessa necessidade de usar tanto esse prefixo latino. Logo esse meu preconceito caiu por terra, pois de uma forma bem singela, Brasileiro me contou que se esforçava para ter um bom vocabulário, mas apesar de não freqüentar a escola há muito tempo, ouvia sempre na televisão ou no rádio, essas terminologias quando se referiam aos seus conterrâneos. Ele não sabia exatamente o significado dessas palavras, mas conforme os telejornais que assistia, esse palavreado se adequava a sua realidade.

Falamos de fé, de como a crença tem poder em nossas vidas. Brasileiro com muita convicção, afirmou crer em Jesus e em diversas divindades, era isso que o fazia um homem de bem. Na sua pessoa é que não havia muita crença, se dizia meio folgado. Mesmo trabalhando em regime de escravidão, ouvira falar por aí, que trabalhava pouco, que no Brasil deveria haver mais trabalho. A sua aparência e seu jeito de ser também o incomodavam, sua pele tinha uma cor que, segundo ele, não dava para definir. Além disto se achava baixo e muito magro.

Notei que Brasileiro admira os europeus e o pessoal dos EUA. Ele falava com um brilho no olhar, que eram bonitos, altos e inteligentes, pareciam até super-heróis como o Batman e o Superman, personagens das revistas em quadrinhos que lia de vez em quando. Brasileiro não via em si muitas qualidades, mesmo me relatando que seu salário não lhe garantia suas necessidades básicas, ainda que andando na corda bamba, fazendo das tripas coração há dezenas de anos e resistindo com garra a todas as agruras, não se enxergava como um super-homem.

Nossa conversa chegou ao fim, nos despedimos e ele me disse: -Fique com Deus amigo. –Já vou indo, hoje é minha folga, mas amanhã às 4:00 já estarei levantando, e só retorno para casa quase na hora de acordar. Eu disse para ele ir com Deus também, mas depois lembrei que o Senhor abençoa seus filhos enquanto dormem. Será que o Brasileiro não recebe bênçãos? Quase não dorme. Prefiro acreditar que Deus nos abençoa sempre.

Rafael Vater
Enviado por Rafael Vater em 23/01/2006
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