Cama e mesa: prazeres do homem

O mundo evolui, tudo muda tudo se transforma, mas é ao redor de uma mesa, que na maioria das vezes ainda se toma as mais sérias decisões, que se estuda, que se faz efêmeras amizades e que se degustam os mais deliciosos pratos. Isto foi ontem, hoje e quiçá amanhã, embora não seja regra no mundo atual.

A mesa farta da casa da vovó, já não existe mais nos tempos modernos. Cortar colorias é lei, para preservar a estética do “magrismo” da neura, desse mundo comandado pela estética, ou quando não, se come desordenadamente, sem horário certo e sem a preocupação da qualidade do que se está ingerindo.

O ato de comer não representa mais um dos maiores prazeres da vida, não se tem tempo para se degustar, apreciar os sabores. Além do que, o homem moderno diversifica os costumes tradicionais, pela pressa necessária ou mesmo para quebrar regras e come em qualquer lugar, a qualquer hora. Hoje as refeições são feitas em frente à TV, em pé nos balcões dos fast – food, se almoça sanduíches andando apressadamente pelas ruas, e se faz até da cama uma mesa de banquete, precisando depois sacudir os lençóis para nos livrarmos dos farelos da comida.

E é nesta cama que o homem tradicional mata o apetite do corpo e da alma. Mas ela também já não é mais o lugar sagrado da cópula. Em qualquer lugar o ato do amor pode ser consumado. Fugir do tradicional excita. E o sofá, o carro, e a própria mesa pode ser útil para está outra espécie de prazer. O clima, o ambiente, a imaginação é que conduz ao delírio. Os olhos fechados nos transportam a qualquer lugar e o prazer nos domina, toma conta do corpo da alma, do espírito, da razão e a gente viaja sem pegar o bonde, sem embarcar no avião sem entrar no navio.

Prazer, sensação, sentimento agradável, harmonioso que nos conduz a alegria, ao contentamento ao deleite. O prazer se sente ao degustar algo delicioso o prazer vem das caricias, do aconchego do fato consumado, do êxtase.

Se o homem moderno limita o prazer de degustar para cortar calorias, se ele não come mais com os olhos por não ter o prazer de ver uma mesa posta com lindos pratos que encham a vista, se ele não mais utiliza o conforto da cama gostosa e dos lençóis macios, onde está sua nova fonte de prazer?

Na indústria do lazer? No consumo das drogas? Na libertinagem? O prazer demasiado do mundo moderno não seria o inverso do paraíso?

Maria Dilma Ponte de Brito
Enviado por Maria Dilma Ponte de Brito em 18/06/2008
Reeditado em 12/05/2020
Código do texto: T1040809
Classificação de conteúdo: seguro