HISTÓRIAS DE NÓS DOIS

Tudo começava assim, meio de repente. Às vezes a gente nem sabia como. Eram simples troca de olhares, sorrisos furtivos. Esse ritual durava semanas, meses até. Depois, vinha uma amiga comum, como quem não quer nada, procurando saber coisas sem importância para, finalmente, dizer que alguém poderia estar interessado. E tudo prosseguia só nos olhares. Dava um frio na barriga, a boca secava, o coração parecia bater mais forte. E a coragem para iniciar um simples diálogo? Não havia dinheiro nem para oferecer um sonho daqueles da cantina de Dona Irma, com muito creme. Afinal, estávamos em 1956, no pátio do Instituto de Educação para os temidos exames orais. Época de costumes rígidos, vigilância severa até dos inspetores de alunos. Um tempo charmoso, inesquecível para todos os que estavam descobrindo o encanto de viver. Afinal, éramos só adolescentes.

Foi assim a minha ingênua paquera naquele final de ano. Se trocamos umas vinte ou trinta palavras foi muito. Quando 1957 chegou, tudo se transformou. As classes eram diferentes, surgiram novos amigos. Nos encontramos algumas vezes em meio às correrias do intervalo. Um dia, nunca mais nos vimos. Existia um detalhe importante: o irmão era meu colega. Se ficou sabendo, nunca disse nada.

Muitas daquelas ingênuas aventuras se transformaram em belas histórias de amor. Foi o que escreveu, outro dia, a Ana Célia Leonelli Diz, informando: “... lembro-me dos “pegas” de dona Leonilda Mazza quando me via conversando com o meu namorado, o Carlos, no recreio, comendo o lanche de carne moída de dona Irma. Que delícia, quantas saudades!!!”

Alguns leitores poderão perguntar o porquê desses pequenos relatos. Simples, hoje é dia dos namorados. Data eminentemente comercial. Mas os cinquentões, sessentões e até setentões do meu tempo, poderão rever o que ficou para trás, aqueles inocentes flertes de outras épocas. É claro que irá aflorar um sorriso à medida que o cinema da memória exibir imagens da adolescência distante, quando a data ainda era pouco comemorada. Afinal, o dia doze de junho era, antes de tudo, a véspera das festas de Santo Antonio.

Hoje é dia de dar um abraço bem forte em nossas companheiras de muitas décadas, aquelas que seguiram ao nosso lado construindo uma vida, não raras vezes cheias de percalços e, juntos, rever o longo caminho percorrido. Talvez não seja preciso grandes presentes. Acho até que basta uma rosa. Em cada pétala estará a lembrança de doces momentos, desde o primeiro encontro, lá atrás, quando os sonhos talvez ainda fossem diferentes. Em outras pétalas, os retratos dos momentos difíceis quando, apenas de mãos dadas e muitas esperanças, atravessaram as provações rumo ao futuro. O tempo nos ensinou muito, principalmente o prazer da vida a dois.

Muitos, infelizmente, sentirão apenas uma doce saudade. O destino, esse incrível e imutável traçado de nossas existências, lhes escreveu por linhas de muitas tristezas. Infelizmente, a vida é assim mesmo. Os jovens que estão descobrindo o real significado deste doce, difícil e inexplicável sentimento, um pequeno conselho, para que o vivam com intensidade e sabedoria. Um dia lá, no futuro, quando os cabelos estiverem brancos, nas mãos manchadas e enrugadas sentirão, como todos nós, que viveram, apesar de tudo, bonitas e inesquecíveis “histórias de nós duas...”