Relações perigosas.

Sexo, suor, libido....

um cheiro antigo de passado impregnado em pedaços de ternura e devassidão. Na boca, a amarga lembrança das palavras foscas, proferidas em meio ao afã e o desejo. O corpo ainda ardia, sequioso por respostas, versos e orgasmos múltiplos. O corpo ainda, sequioso por um passado invisível que não se desfazia, nem com todas as lembranças atrasadas. No rosto dele, pedaços de paraíso, dor e paixão, revestidos em tantos nós que a cabeça nem soube como dar.

Então, foi assim...

Não nos falávamos há séculos. Eu nem me fazia conta mais da sua vaga existência em minha vida, exceto pelas marcas da sagrada descoberta do amor e das artes do amor. Fora ele quem me ensinara a amar meu corpo, alma e sentidos; a sintonizar minhas vontades e meu despudor, - ele me fez mulher em poucos dias.. E me fez dele por dois anos. Fora isso.. largos anos nos separavam. Anos em que tropeçamos, amamos outras pessoas, reconsideramos convicções... esquecemo-nos. Até ontem.

Depois de muito tempo, aquela conversa chata no msn: informações, dados, perguntas típicas... mas nesse dia foi dferente. Ele apenas foi mais suave como de costume, e me disse q novamente estava só. Meu coração disparou, como no dia em que soube que ele estava casado. Com uma menina que eu nem sei de onde, nem como, mas que, naquele momento, se fazia mais dele que ele de mim.

Foi apenas curioso.. um misto de satisfação retaliado pela minha sensatez. Afinal,de que me servia um fim de noivado e o fim do casamento dele, se não podíamos nos ver? Mas ele se arriscou a dizer que se não estivesse tão cansado me chamaria pra sair. Pra um bom entendedor, meia palavra basta.. Ciente desta premissa, tão certa e feita e repetidamente dita, disse q iria na casa dele, que me esperasse... Peguei o endereço e rodei meio mundo, até chegar.

Me certifiquei que ele estava lá: a luz acesa, barulhos na casa... mas no celular atendeu voz de mulher. Pensei: será possível? Depois que eu crio coragem e me debando lá das cucuias atrás de um rabo de saia ( ou de uma cueca enorme, como preferir) me acontece uma dessas? Dei meia volta e estiquei o caminho... transtornada pela alegria momentânea, excitação e medo. Simplesmente era o melhor sexo da minha vida.. aquele homem me conhecia em mínimos detalhes.. e a possibilidade de estar há apenas centímetros de distância dele me deixou não-somente excitada, como talvez até atraída.

Cheguei em casa bêbada, inebriada pela ira e por pensar que ele havia me enganado, marcando um encontro entre o passado e o presente. E a ex, certamente, era eu. Pois bem, ele estava no msn. Tão desentendido como eu daquela história estapafúrdia, de tal maneira que a risada foi enorme. Aquele número não era o dele, a mulher ele nem conhecia e eu era uma estúpida mesmo em passar na porta de casa e não entrar. Me justifiquei com o receio dos amantes que não se vêem há 5 anos e dei por fim a conversa, interminável, por sinal.

Insistência... ele queria que eu voltasse. Expliquei que estava tarde, que já estava de pijama e ele disse: se você não estivesse de pijama eu diria pra você voltar aqui. Então, irracionalmente, cega de desejo, angústia, expectativa e incertezas fui, jurando pra mim mesma que sexo estava fora de cogitação. Fui e nem gastei dez minutos, atravessando os carros, atropelando paisagens, bombardeando tudo: sentimentos, pudores, mágoas.

Cheguei arfante, como quem quer sexo, mas não quer tomar a iniciativa. E foi como eu esperava: conversamos, comentamos nossos relacinamentos fracassados, vimos nosso amadurecimento duro. 2 da manhã e nada... ele não ia me tocar, nem me olhava direito e parecia profundamente intediado com aquela conversa besta que todo mundo sabia, não enganava ninguém.

Mãos, dedos.. nossas bocas se roçaram, numa rapidez incontrolável. Ele me levou pra cama como quem leva porcelana cheia de comida pra mais tarde. Nos chamamos de putas, concluimos que éramos mesmo duas putas.. Ele, que me abusava como se eu fosse carne; e mais ainda eu, extravasando todos os meus orgasmos reprimidos; já que aquele homem, única e decididamente, era quem conhecia meus becos e linhas. Sabia o que me arrepiava de dor, satisfação ou medo. Sabia do meu desejo estampado no rosto de uma madrugada fria. Ele me esquentou como se esquenta o ferro... Com brasa e maestria. Me devolveu, não só a auto-estima, como também a vontade de sentir denovo aqueles arrepios.

Depois, nada de depois... quem sabe outro dia. Ternura... Nossos dedos entrelaçados. Sua cabeça pousada nos meus seios, numa paz inenarrável. Corpos, suados e satisfeitos. E eu sabia que ainda amava aquele homem-sexo, despido de pudores ou medo ou histórias a contar. A simplicidade de uma noite que se divide com alguém íntimo, mesmo que distante. O coração pousado numa paz latente, eu beijando aquele rosto-homem que me fez tão feliz um dia e hoje me refazia.

Depois... como uma boa puta, nem me levou à porta. O coração, arfante, seduzido, deixou-se cair em desalento. Mas quando eu girei a chave ele voltu e me deu um beijo... disse que agora eu podia ir.. que ele ficaria em paz. E neste instante eu soube que o amor [se] transforma... Avalanche. Não pensamos em depois, nem em nós, nem em mais nada...