AMÉLIA

Voce falou demais, não pedi a sua opinião, e quem disse também que eu pedi a sua permissão. Essas foram as últimas palavras de Amélia, ao sair de casa naquele dia ensolarado. Era a primeira vez depois de 2 anos de casamento, que ela teve coragem de rebater alguma frase imperativa do marido. E a última vez também que ela colocaria os pés naquela casa.

Saiu sem levar nada. Nem roupa, celular, dinheiro. Na bolsa tinham apenas alguns kits de maquiagem, uma carteira com cartões que brevemente estariam bloqueados. Um biquini e, é claro, as carteiras de cigarro, que Amélia não conseguiria viver sem.

Amélia decidiu ir pra bem longe daquele carma. Um lugar onde ela pudesse recomeçar, talvez voltar pra sua cidade interiorana, mas antes iria a praia. Ao chegar, tirou os saltos finos, procurou um lugar para colocar o biquini, depois abriu os braços e pensou: estou livre, livre. Algumas lágrimas escorreram, seu coração ficou mais manso, e ela correu que nem uma criança para a água.

Ficou lá durante algum tempo, passado a euforia, sua ficha caiu. E agora o que ela iria fazer? Sua condição de classe média alta tinha lhe oferecido algumas comodidades, mas em troca de obediência. Sua família e amigos estavam bem longe. Ela os havia deixado para viver com um ricaço longe de sua cidade natal.

Aí veio o desespero. Tinha sido tudo tão de repente, que ela não havia se precavido como deveria. Voltar àquela casa seria o fim de tudo. Essa idéia foi descartada de imediato. E o pior, já estava anoitecendo, e ela tinha que tomar uma decisão logo.

E foi aí que realmente começou a história de Maria Amélia dos Santos Gouvêa. Para os mais íntimos Amelinha, como ficou conhecida depois, ao retornar a sua cidade, comer o pão que o diabo amassou, e reconstruir a sua vida a duras penas, mas realizada e feliz por ter conseguido sua independência através de seus próprios méritos. Mas essa é outra longa história...

Soane Guerreiro
Enviado por Soane Guerreiro em 25/06/2008
Reeditado em 26/06/2008
Código do texto: T1050088